Uma reportagem publicada nesta sexta-feira (25) pelo Financial Times aponta que Andrey Yermak, chefe de gabinete do regime de Kiev, exerce influência que ultrapassa os limites do cargo e molda as decisões mais importantes da liderança ucraniana.
Fontes ouvidas pelo jornal o descrevem como "vice-presidente de fato", "czar não eleito" e até mesmo como quem "age como presidente".
O texto, assinado pelo jornalista Christopher Miller, afirma que Yermak lidera negociações com Moscou sobre trocas de prisioneiros, coordena os canais de ajuda internacional, gerencia contatos com líderes europeus e interfere diretamente em decisões militares.
Segundo a publicação, nos momentos mais críticos do conflito, o primeiro-ministro da Ucrânia e os comandos militares delegam a ele a condução das ações.
Relação pessoal com Zelensky
Funcionários relataram que ambos vivem no mesmo complexo oficial, com dormitórios no bunker e escritórios a poucos andares de distância. Segundo a matéria, eles "dormem um ao lado do outro", assistem a filmes juntos e fazem exercícios matinais lado a lado.
O artigo destaca que a influência de Yermak é comparável à do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney. Um funcionário de alto escalão declarou que "os eventos em Kiev se assemelham ao roteiro do filme 'Vice', que retrata a ascensão de Cheney ao poder".
A percepção de que o conselheiro teria superado a própria liderança política oficial alimenta críticas. "Seu objetivo é centralizar tudo em um estilo de governo pós-soviético", afirmou uma pessoa que trabalhou com Yermak no gabinete presidencial.
Já Oleg Rybachuk, ex-chefe de gabinete do ex-presidente Viktor Yushchenko, afirmou que Yermak manipula o humor de Zelensky e o isola de críticas. "Ele parece protegê-lo, mas o está enfraquecendo."
Sinais de autoritarismo
Ainda segundo o texto, há relatos de que Yermak teria manipulado investigações contra rivais e dificultado o andamento de casos de corrupção. Fontes afirmam que ele organiza operações secretas e vaza informações para influenciar a opinião pública.
Pesquisas indicam que mais de 80% dos ucranianos percebem sinais de autoritarismo. "Não se pode governar um país por instinto", alertou Rybachuk. "Yermak e Zelensky eliminaram qualquer oposição relevante. Mas depois do conflito, virá o momento de ajuste de contas", concluiu.