Notícias

Fungo ligado à 'maldição do faraó' mostra potencial contra o câncer

Pesquisadores descobrem que substância extraída do Aspergillus flavus pode inibir crescimento de células cancerígenas.
Fungo ligado à 'maldição do faraó' mostra potencial contra o câncerGettyimages.ru / Richard T Nowitz

O fungo Aspergillus flavus, associado por décadas à lenda da "maldição de Tutancâmon", pode agora se tornar um aliado no combate ao câncer

Cientistas da Universidade da Pensilvânia identificaram quatro moléculas produzidas por esse microrganismo, chamadas de "asperigimicinas", que demonstraram capacidade de bloquear o crescimento de células cancerosas humanas.

A pesquisa analisou diferentes cepas de fungos do gênero aspergillus, e o A. flavus se destacou por produzir uma classe rara de compostos: os RiPPs, ou "peptídeos sintetizados ribossomicamente e modificados pós-traducionalmente". Essas moléculas, comuns em bactérias, são pouco conhecidas em fungos e têm forte atividade biológica.

As asperigimicinas apresentaram uma estrutura inédita de anéis entrelaçados e, em laboratório, conseguiram interromper a divisão de células cancerosas ao bloquear a formação de microtúbulos, estruturas essenciais no processo celular.

Os testes também revelaram que certas gorduras, chamadas lipídios, ajudam essas substâncias a penetrar nas células, um obstáculo comum no desenvolvimento de medicamentos.

Impacto da descoberta

A descoberta amplia as possibilidades de novos tratamentos e reforça o potencial inexplorado dos fungos como fonte de compostos terapêuticos. Os cientistas afirmam que encontraram grupos semelhantes de genes em outras espécies, o que pode indicar uma nova classe de medicamentos à vista.

"Maldição do Faraó"

O Aspergillus flavus é um fungo encontrado no solo, em grãos e vegetação em decomposição. Ele ficou conhecido após ser identificado em tumbas antigas, como a do faraó Tutancâmon, descoberta em 1922. Na época, mortes misteriosas entre os membros da equipe do arqueólogo Howard Carter deram origem à lenda da "maldição do faraó".

Hoje se sabe que o fungo libera esporos tóxicos que podem causar infecções respiratórias graves, principalmente em pessoas com imunidade comprometida. Ele também foi detectado na tumba de Casimiro IV, na Polônia, após casos semelhantes de morte entre cientistas nos anos 1970.

A expectativa agora é avançar para testes em modelos mais amplos e, futuramente, para ensaios clínicos em humanos. Se bem-sucedidas, as asperigimicinas poderão se somar a medicamentos derivados de fungos que já transformaram a medicina, como a penicilina.