
Cientistas criam fio dental que funciona como vacina sem agulhas

Pesquisadores das universidades de Texas Tech e da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, desenvolveram um fio dental inovador que atua como uma vacina, permitindo a imunização sem a necessidade de agulhas.
A descoberta, descrita em um estudo publicado na revista Nature Bioengineering, tem o potencial de aumentar a produção de anticorpos no pulmão, saliva e até na medula óssea, de maneira similar às vacinas tradicionais.

A inovação foca no desenvolvimento de vacinas aplicáveis em regiões úmidas do corpo, como nariz e boca, principais entradas para vírus. Segundo a Science, essas áreas do corpo são desafiadoras para a administração de vacinas devido à sua defesa natural contra agentes externos.
O estudo e seus resultados
A ideia do fio dental-vacina surgiu quando Harvinder Gill, engenheiro especializado em nanomedicina da Universidade Estadual da Carolina do Norte, se deparou com o sulco gengival, o espaço entre os dentes e a gengiva. "Isso meio que acendeu uma faísca", afirmou Gill, autor principal do estudo.
Ele propôs usar essa área como um ponto de absorção para vacinas, o que levou à colaboração com um amigo da Universidade Tecnológica do Texas para testar a teoria com camundongos.
Durante o experimento, um anel de metal foi usado para empurrar a mandíbula do animal, permitindo que o fio dental fosse passado nas gengivas dos roedores. O fio dental foi modificado para conter uma proteína que brilhou no escuro, permitindo a observação de que a gengiva absorveu 75% da proteína. Após dois meses de uso contínuo, os camundongos apresentaram um aumento significativo nos anticorpos, incluindo nos pulmões, nariz, baço e até nas fezes.
Fio dental contra a gripe
A fase seguinte do estudo envolveu a incorporação de um vírus da gripe inativado no fio dental. Em um experimento com 50 roedores, os camundongos foram imunizados por duas semanas e expostos ao vírus real.
Os animais que usaram o fio dental imunizante conseguiram sobreviver, enquanto os não imunizados faleceram. Análises mostraram que os camundongos imunizados apresentaram anticorpos nas fezes, saliva, pulmões, baço e até na medula óssea, sugerindo uma resposta imunológica eficaz, comparável a vacinas injetáveis.
Próximos passos
Os cientistas agora planejam testar a tecnologia em humanos. 27 voluntários saudáveis participaram de um teste, utilizando fio dental com corante alimentar, e aproximadamente 60% dos participantes mostraram que a proteína foi absorvida pela gengiva.
Além disso, outras pesquisas estão sendo feitas para avaliar a eficácia do fio dental no tratamento de doenças gengivais. Gill imagina um futuro onde o fio dental seja uma ferramenta comum de vacinação em consultórios odontológicos: "Você pode imaginar ir ao dentista e seu médico administrar uma dessas vacinas durante a sua consulta", conclui o pesquisador.

