Sanções dos EUA e da UE causaram tantas mortes quanto as guerras, segundo estudo

Novo estudo estima que as restrições econômicas causaram cerca de 560 mil mortes anualmente em todo o mundo. "É difícil imaginar outras intervenções políticas com efeitos tão adversos na vida humana", dizem os autores.

Sanções econômicas unilaterais impostas pelos Estados Unidos (EUA) e pela União Europeia (UE) a outros países estão causando um aumento substancial na mortalidade que é comparável ao de conflitos armados, sugere um estudo publicado recentemente no periódico Lancet Global Health.

Os autores analisaram dados sobre taxas de mortalidade por faixa etária durante episódios de sanções em 152 países entre 1971 e 2021 e estimam que, na última década, sanções unilaterais causaram 564.258 mortes anualmente em todo o mundo, um número "semelhante à carga global de mortalidade associada a conflitos armados".

"Essa estimativa é maior do que a média anual de vítimas de guerra durante esse período (106 mil mortes por ano) e semelhante a algumas estimativas de mortes totais em guerras, incluindo vítimas civis (cerca de meio milhão de mortes por ano)", detalha o relatório.

Os impactos das sanções econômicas foram significativamente associadas ao aumento da mortalidade em pelo menos seis das sete faixas etárias (com exceção dos adolescentes), afetando desproporcionalmente crianças menores de cinco anos. Os autores também observaram que as sanções dos EUA, comparadas às da UE e da Organização das Nações Unidas (ONU), são mais contraproducentes, assim como aquelas especificamente não relacionadas a armamentos. Além disso, seus efeitos na taxa de mortalidade "geralmente aumentam ao longo do tempo, com episódios de sanções mais longos resultando em custos mais altos para vidas".

Efeitos das sanções

A imposição de sanções já foi correlacionada com a piora das condições de saúde nos países afetados, com impactos graves o suficiente para causar um número significativo de mortes. Isso ocorre porque as sanções podem levar a reduções na quantidade e na qualidade da prestação de serviços de saúde pública, limitando o acesso a suprimentos médicos, alimentos e outros bens essenciais, e criando barreiras para organizações humanitárias que dificultam sua capacidade de operar efetivamente. "É difícil imaginar outras intervenções políticas com efeitos tão adversos na vida humana que ainda sejam amplamente utilizadas", afirma o estudo.

Apesar dos esforços para promover iniciativas que neutralizam essas consequências, o uso de sanções econômicas aumentou consideravelmente nas últimas décadas sob o suposto objetivo de "acabar com guerras, proteger os direitos humanos ou promover a democracia", segundo os autores do trabalho. Nesse sentido, eles acreditam que as evidências de que essas medidas resultam em perdas humanas devem ser "razão suficiente para defender sua suspensão" e pedem aos responsáveis por sua implementação que tenham moderação no futuro.