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A vida selvagem de Ozzy Osbourne: por que milhões o adoravam, e como ele chocou o mundo

Um dos pais do heavy metal faleceu nesta terça-feira poucas semanas depois de "voltar às origens" com um megashow de despedida ao lado de seus antigos companheiros do Black Sabbath, a banda com a qual iniciou sua trajetória rumo ao estrelato.
A vida selvagem de Ozzy Osbourne: por que milhões o adoravam, e como ele chocou o mundoGettyimages.ru / Koh Hasebe / Shinko Music

Um dos pais fundadores do heavy metal morreu nesta terça-feira (22) poucas semanas depois de "voltar às origens" num mega show de despedida com seus antigos colegas do Black Sabbath, a banda que o lançou ao estrelato.

Ozzy Osbourne, que faleceu aos 76 anos, foi uma das figuras mais icônicas da música: um pioneiro do heavy metal que trouxe a temática sombria e de ocultismo ao rock. Frontman excêntrico e inigualável nos palcos, chocou o mundo ao arrancar a cabeça de um morcego ao vivo, e mais tarde tornou-se estrela do reality show The Osbournes.

Infância difícil moldou seu destino

Nascido John Michael Osbourne em 3 de dezembro de 1948, em Birmingham, na Inglaterra, era filho de um operário e de uma funcionária de fábrica.

Teve uma infância complicada, cresceu em meio à pobreza, sofria com dislexia e provavelmente tinha TDAH. Na escola, ganhou o apelido de Ozzy, que nunca mais largou.

Aos 15 anos, largou os estudos e passou por vários empregos. Chegou a furtar uma loja, foi detido e ficou seis semanas na prisão.

Começo da vida musical

Foi a música que o salvou: ouvir os Beatles foi um choque de esperança. "Parecia uma explosão de felicidade", disse mais tarde.

Convenceu o pai a lhe comprar um microfone e um equipamento de som, e logo montou uma banda com o baixista Geezer Butler chamada Rare Breed, que durou só dois shows.

Depois se juntaram a um grupo de blues, que mais tarde virou o Earth, com o guitarrista Tony Iommi e o baterista Bill Ward.

Nasce o Black Sabbath

Um dia, ensaiando perto de um cinema, viram o cartaz do filme de terror 'Black Sabbath', após o que Butler sugeriu ao grupo fazer músicas assustadoras: "se pagam para assistir um filme de terror, por que não podemos fazer músicas de terror?", propôs o baixista. E assim nasceu a banda.

O primeiro álbum homônimo foi lançado em 1970, seguido de clássicos como Paranoid e Master of Reality, este último particularmente influenciou o futuro gênero doom metal e toda a cena pesada que veio depois.

Mas o sucesso não veio sem problemas. Em 1979, Ozzy foi expulso do grupo alegadamente por conta de seu abuso de álcool e drogas. Mais tarde Ozzy declarou que seus vícios foram apenas uma desculpa do verdadeiro líder da banda, o guitarrista Tony Iommi, para sacá-lo do Sabbath depois das vendagens não tão satisfatórias dos dois últimos álbuns lançados na formação original: o Technical Ecstasy e o Never Say Die!.

Ozzy afirmava que todo o grupo abusava do álcool e das substâncias químicas na época: "Eles não poderiam afirmar que eu estava ligeiramente mais chapado do que eles", declarou posteriormente.

Renascimento e carreira solo

Após ser demitido do Sabbath, Ozzy começou sua carreira solo com a ajuda de Sharon Arden, filha do então empresário da banda.

Eles se casaram em 1982 e tiveram três filhos. Ozzy disse: "Se não fosse a Sharon, eu já teria morrido faz tempo".

O gênio da guitarra Randy Rhoads foi peça-chave nos dois primeiros discos, os lendários Blizzard of Ozz e Diary of a Madman, que redefiniram o gênero trazendo uma sonoridade mais complexa e com forte influência da música clássica no rock, que até então se baseava em sequências de acordes simples e no uso quase exclusivo da escala pentatônica durante os solos.

A parceria com Rhoads, contudo, foi tragicamente encurtada em 1982 quando o guitarrista faleceu em um acidente de avião enquanto estava em turnê na Flórida. Ozzy ficou profundamente abalado com a tragédia e chegou a pensar em desistir de sua carreira solo, mas decidiu seguir em frente e continuou a revelar novos talentos da guitarra como os virtuosos Jake E. Lee e Zakk Wylde, com quem gravou diversos álbuns de estúdio e ao vivo.

Nos anos 80 e 90 emplacou hits como Bark at the Moon, Shoot in the Dark, Mama I'm Coming Home, No More Tears e Perry Mason. Em 2003, chegou ao primeiro lugar das paradas com Changes, uma releitura de uma balada composta ainda nos tempos do Black Sabbath gravada em dueto com sua filha, Kelly.

Lançou ao todo 13 álbuns de estúdio em sua carreira solo e 9 com o Black Sabbath. Em 2020, gravou o Ordinary Man, com participações de Post Malone e Elton John; e em 2022 lançou o Patient Number 9, mas devido às complicações de seu estado de saúde não pôde sair em turnê para divulgá-lo.

Em 2013, os três integrantes originais do Sabbath, Ozzy, Butler e Iommi, se reuniram para gravar o disco 13, que ficou em 1º lugar nas paradas dos EUA e do Reino Unido, quebrando um hiato de quase 45 anos desde a demissão de Ozzy da banda em 1979.

Comportamentos insanos

A carreira de Ozzy Osbourne também foi marcada por eventos infames e controversos (não raramente provocados pelo seu vício em álcool e drogas) que, se por lado lhe causou diversos problemas legais e financeiros, por outro ajudaram a projetar sua fama mundialmente e a criar uma aura lendária à sua figura.

Em 1981, no dia da assinatura de um contrato com uma gravadora na época de sua carreira solo, Sharon o convenceu a soltar duas pombas como um gesto de paz e harmonia; mas, bêbado, arrancou a cabeça de uma delas com uma dentada e a cuspiu no chão, chocando todos os presentes na reunião.

Em 1982, foi preso no Texas após urinar no Alamo (um monumento em homenagem a soldados americanos que morreram na guerra com o México) usando um vestido da Sharon. Ozzy foi banido da cidade de San Antonio por 10 anos por conta do ocorrido.

No mesmo ano, mordeu a cabeça de um morcego atirado por alguém da plate, achando que era de borracha, e precisou tomar vacina contra raiva.

Existe a lenda de que em uma turnê com a banda Mötley Crüe, Ozzy teria cheirado uma carreira de formigas para provar que era mais louco que todos eles. O cantor nem reconhece nem nega o fato pois declarou que seu vício em álcool e drogas nos anos 80 era tão intenso que pouco se lembra do que fez ou deixou de fazer na época.

Em 1989, foi preso por tentar estrangular a Sharon durante uma crise alcoólica. Ela, contudo, perdoou Ozzy e retirou a queixa contra ele.

Em 2013, durante a turnê de despedida do Black Sabbath, Ozzy cometeu uma gafe que irritou os fãs argentinos ao aparecer no palco enrolado em uma bandeira do Brasil em um show na cidade de La Plata.

Acidentes e doença

Em 2003, sofreu um grave acidente de quadriciclo no qual quebrou o pescoço, a clavícula e várias costelas. Sharon contou que o cantor ficou sem pulso por mais de um minuto.

Em 2020, revelou que sofria do mal de Parkinson; em 2022 passou por cirurgia na coluna. No ano seguinte, cancelou a turnê do seu último álbum, Patient Number 9, por fraqueza física.

Em 2025, revelou ao The Guardian que entrou em depressão profunda e que foi Sharon quem lhe incentivou a seguir em frente.

A despedida

O megaevento Back to the Beginning, realizado no dia 5 de julho na cidade natal do cantor, Birmingham, foi organizado para ser o último adeus de Ozzy aos palcos.

Ele se reuniu com todos os integrantes originais do Sabbath, Butler, Iommi e Ward, e tocou sentado em um trono decorado com morcegos, pois o estado avançado do Parkinson o impedia de andar, e mesmo assim estava cheio de energia.

"Obrigado do fundo do meu coração", disse Ozzy ao público. A noite contou com participações do Metallica, Guns N’ Roses, Slayer, Pantera, Anthrax,e muitos outros nomes de peso do rock e do heavy metal que reconhecem o Black Sabbath como uma de suas maiores influências musicais.

O evento durou mais de nove horas e toda a renda foi destinada a instituições de caridade.

Menos de três semanas depois, Ozzy Osbourne faleceu no Reino Unido.