Produção e consumo de drogas atingem recordes e expõem crise nos EUA

Relatório da ONU revela aumento no uso de entorpecentes e questiona eficácia da histórica "guerra às drogas".

Os Estados Unidos enfrentam uma grave crise sanitária causada pelo consumo crescente de drogas, conforme aponta o Relatório Mundial sobre Drogas 2025 da ONU, divulgado recentemente.

O documento mostra que a política antidrogas adotada pelo país desde 1973, baseada na criminalização de usuários e na repressão armada, fracassou ao não conter a produção, o tráfico ou o consumo de entorpecentes.

De acordo com o relatório, entre 2013 e 2023, o número de usuários de drogas no mundo aumentou 28% alcançando cerca de 316 milhões de pessoas, sendo que 64 milhões apresentaram uso problemático. Nos EUA, mais de 48 milhões de pessoas com 12 anos ou mais lutaram contra algum transtorno relacionado ao uso de entorpecentes (isto é, 16% da população americana), segundo pesquisa nacional.

Epidemia

O país vive ainda uma grave epidemia de opioides. Entre 2010 e 2023, as mortes por overdose de cocaína aumentaram de menos de 5 mil para quase 25 mil. No mesmo período, os pedidos de tratamento por uso de metanfetamina subiram de 100 mil para 175 mil. Já os óbitos por heroína chegaram a 4 mil em 2023. As mortes por opioides sintéticos e psicoestimulantes, antes quase inexistentes, também se aproximaram de 25 mil no último ano.

Pesquisas apontam que o avanço da crise dos opioides está ligado à atuação de laboratórios farmacêuticos dos EUA, que lucraram ao promover produtos altamente viciantes, sem alertar os pacientes sobre os riscos. Quando o controle sobre esses medicamentos foi ampliado, muitos usuários passaram a buscar alternativas no mercado ilegal, como o fentanil. A questão local do problema não é abordada pelo Governo Trump, o qual culpabiliza a China e o México pela sua crise interna.

Apesar de uma redução de 32% nas mortes por overdose entre 2023 e 2024, o número de óbitos por opioides ainda é elevado. Em 2023, foram registradas mais de 80 mil mortes, principalmente associadas ao fentanil. Os especialistas alertam que novas emissões ainda mais potentes, como os nitazenos, relacionadas com 320 mortes no mesmo ano, já começaram a surgir.

Mascarando o problema

Mesmo diante desse cenário, o presidente Donald Trump retomou o discurso da "guerra contra as drogas", sem mencionar o papel da indústria farmacêutica ou da demanda interna.

O discurso atual repete uma narrativa iniciada na era Nixon, que atribui o consumo de entorpecentes a minorias e imigrantes. Assim como agora, a narrativa também carregava conotações racistas e xenofóbicas, ao considerar o consumo de ópio aos chineses; o uso de cocaína, aos negros; e a maconha, aos mexicanos, sem jamais considerar ou denunciar as organizações criminosas norte-americanas, nem voltar a atenção à demanda e ao consumo, que com o tempo se espalharam pela própria população.