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Para Nobel de Economia, Brasil criou modelo do futuro com Pix

Economista Paul Krugman destaca eficiência do Pix e diz que sistema digital brasileiro é exemplo para o mundo.
Para Nobel de Economia, Brasil criou modelo do futuro com PixGettyimages.ru / Nicolas Koutsokostas/NurPhoto

O economista norte-americano Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2008, afirmou que o Brasil pode ter "inventado o futuro do dinheiro" ao criar o Pix.

Segundo artigo publicado nesta terça-feira (22), o sistema de pagamentos operado pelo Banco Central do Brasil serve como exemplo de inovação pública eficiente em um cenário global dominado por interesses privados e impasses políticos.

No texto, intitulado "O Brasil inventou o futuro do dinheiro?" (Has Brazil Invented the Future of Money?, em inglês), Krugman critica o bloqueio político nos Estados Unidos à criação de uma moeda digital pública.

Ele questiona a decisão da Câmara dos Deputados norte-americana de impedir que o Federal Reserve (Fed) — banco central dos Estados Unidos, responsável pela emissão do dólar, controle da inflação e regulação do sistema financeiro — estude ou desenvolva uma moeda digital do banco central, conhecida pela sigla CBDC.

"Por que os republicanos estão tão apavorados com a ideia de uma CBDC a ponto de literalmente ordenar ao Fed que pare de pensar nisso?", escreveu o economista.

Ele observa que, nos Estados Unidos, apenas instituições financeiras têm acesso direto ao sistema de pagamentos eletrônicos do banco central, enquanto pessoas físicas continuam dependentes de bancos privados.

A proposta de uma CBDC expandiria esse direito, permitindo a indivíduos e empresas não financeiras movimentar dinheiro diretamente por meio do Fed.

Krugman reconhece que há receios quanto à privacidade, mas ironiza a preocupação dos republicanos. "Se você acha que eles estão realmente preocupados com vigilância potencial, eu tenho umas memecoins da família Trump para te vender", afirmou.

Ele lembra que o governo já tem acesso a registros bancários privados em determinadas condições, mas é limitado por leis como a Lei do Direito à Privacidade Financeira (Right to Financial Privacy Act, em inglês)

Segundo o economista, o verdadeiro temor dos conservadores seria o impacto de uma moeda digital pública sobre os bancos privados e as chamadas stablecoins. "É provável que muita gente prefira uma CBDC a contas bancárias privadas", escreveu, acrescentando que o setor financeiro faria forte oposição à sua criação.

Diante desse bloqueio, Krugman aponta o Brasil como exemplo de que uma solução intermediária é possível. "Sabemos que isso é viável porque o Brasil já fez", declarou.

Para ele, o Pix mostra que um sistema público de pagamentos pode funcionar de forma ampla, barata e eficiente.

Lançado em 2020 pelo Banco Central, o Pix já é utilizado por 93% da população adulta brasileira, de acordo com o artigo. Krugman compara o sistema ao Zelle, serviço operado por um consórcio de bancos privados nos EUA, mas ressalta que o Pix é "muito mais fácil de usar".

Citando dados do Fundo Monetário Internacional, o economista afirma que uma transação via Pix leva em média três segundos para ser concluída, contra dois dias para cartões de débito e até 28 dias para cartões de crédito.

Além disso, o custo da transação é menor: "Os pagamentos via Pix são gratuitos para pessoas físicas, e custam às empresas apenas 0,33% do valor da transação — contra 1,13% no débito e 2,34% no crédito", observou.

Krugman argumenta que o Pix concretiza, na prática, as promessas feitas por defensores das criptomoedas, mas sem os riscos associados. "Não posso deixar de notar que o Pix está realmente entregando o que os entusiastas das criptomoedas prometeram, falsamente, conseguir com blockchain — baixos custos de transação e inclusão financeira", escreveu.

Apesar da admiração, Krugman é cético quanto à adoção de um sistema semelhante nos Estados Unidos. Para ele, isso dificilmente acontecerá, pelo menos no curto prazo, por dois motivos: a força do lobby financeiro e a resistência ideológica da direita norte-americana à atuação do Estado.

"Outras nações podem aprender com o sucesso do Brasil", conclui. "Mas os Estados Unidos provavelmente continuarão presos entre interesses estabelecidos e fantasias cripto".