Haddad defende fim das bets e chama setor de 'epidemia' no Brasil

Ministro da Fazenda alerta para impacto social das bets e diz que há ligação com lavagem de dinheiro e crime organizado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que, se dependesse apenas dele, as apostas online seriam imediatamente proibidas no Brasil. Em entrevista exclusiva ao portal ICL Notícias, na última segunda-feira (21), Haddad classificou o crescimento desenfreado das bets como uma "epidemia" e defendeu que o tema seja tratado como problema de saúde pública.

"Se fosse aparecer um projeto na Câmara Federal, continua ou para, eu apertava o botão do para. Não tem arrecadação que justifique essa roubada que nós chegamos", declarou.

O ministro revelou que, ao assumir a Fazenda, encontrou um cenário completamente desregulado. Segundo ele, durante mais de quatro anos, o setor operou sem cobrança de impostos e sem qualquer restrição à publicidade. "Foram mais de R$ 40 bilhões de subvenção que foi tudo para fora", denunciou.

Com o avanço das apostas, Haddad afirma que a equipe econômica levou seis meses para centralizar as informações do setor. "Hoje eu sei e é uma desgraça. O que está acontecendo é uma desgraça", reforçou.

"Esse dinheiro sumiu do Brasil", destacou o ministro, ao relatar que parte significativa dos lucros das bets foi enviada para o exterior por meio de criptoativos, fintechs e plataformas não regulamentadas. Segundo Haddad, o objetivo inicial da Fazenda foi organizar tecnicamente o setor para compreender a dimensão do problema.

Segundo dados compartilhados na entrevista, cerca de 60% dos jogadores têm até 39 anos de idade, e milhões já apresentam sintomas de vício

O ministro também chamou atenção para os riscos de associação entre plataformas de apostas e fintechs que, segundo ele, estão sendo utilizadas para movimentações ilegais.

"Fintech que está servindo de veículo para bet ilegal... fintechs que estão servindo de veículo possivelmente para o crime organizado, ou para lavagem de dinheiro, ou para coisa pior", afirmou. Segundo ele, o Banco Central já foi notificado e a Polícia Federal será incorporada às investigações.

Para Haddad, é preciso tratar o tema com a seriedade devida "Nós vamos levar para a mesa do presidente", disse.

"Nós vamos ter que enfrentar... Eu soube de casos escabrosos envolvendo bets, de conhecidos que chegaram a perder familiares em função de bets. Então é um drama real".

Além das apostas, o ministro também abordou, durante a entrevista, temas como reforma tributária, justiça fiscal e combate à inadimplência das elites econômicas. Haddad defendeu maior tributação sobre rendas altas e patrimônios improdutivos, e destacou que as medidas em curso visam "buscar justiça social como há muito tempo não se faz no Brasil".