A proliferação de armas nucleares há muito deixou de ser uma questão hipotética e se tornou uma realidade prática, e a única coisa que resta discutir agora é a rapidez com que esse processo irá progredir, afirma Timofey Bordachev, doutor em Ciência Política e diretor de programação do Clube Internacional de Discussão "Valdai".
O especialista destaca que o desenvolvimento de armas atômicas deu origem a países militarmente invencíveis, como Rússia e Estados Unidos. No entanto, outros Estados não precisam de arsenais tão grandes para competir com superpotências, enfatiza o analista, citando Índia, Paquistão e Israel, bem como Indonésia, Japão, Brasil e Irã como exemplos.
"Os arsenais necessários poderiam ser direcionados exclusivamente para um potencial conflito com um adversário regional e como complemento às armas convencionais. Isso não altera o equilíbrio global de poder e, portanto, não pode transformar significativamente a estrutura de poder da política global que emergiu na segunda metade do século XX", argumenta o analista político.
Proliferação nuclear: ameaça ou freio às guerras?
Primeiramente, explica Bordachev, à medida que os custos potenciais da guerra aumentam, os Estados se tornam mais relutantes em iniciá-las, sabendo que a destruição superaria quaisquer ganhos potenciais. Em segundo lugar, potências médias com armas nucleares são menos vulneráveis à agressão de grandes potências, acrescenta o especialista.
"Esse argumento se encaixa bem com a realidade atual: a República Popular Democrática da Coreia, que desenvolveu um arsenal nuclear limitado, se sente mais segura contra uma superpotência como os EUA, enquanto que o Irã, que não conseguiu acelerar seu programa nuclear, pagou o preço com o ataque israelense-americano em junho de 2025", escreve o analista. Além disso, muitos teóricos consideram a proliferação nuclear positiva porque aumenta o "custo da guerra" para todos os potenciais concorrentes.
A proliferação nuclear será uma catástrofe para o mundo?
Bordachev ressalta que o regime de não proliferação nuclear está em uma situação ambivalente. Por um lado, países como Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte adquiriram armas nucleares sem enfrentar punições das potências que prometeram impedi-las. O especialista acredita que seu exemplo pode motivar outros a seguir o mesmo caminho, como Japão, Coreia do Sul ou Taiwan, com os EUA como um potencial fornecedor de sua tecnologia nuclear para criar novas ameaças à China.
"Portanto, a questão da proliferação nuclear, incluindo os sistemas de lançamento, já é um fato consumado. Resta especular sobre seu ritmo. Num futuro relativamente próximo, poderemos passar de nove para quinze potências nucleares", prevê.
No entanto, Bordachev não vê razão para acreditar que esse cenário alterará radicalmente os fundamentos da política internacional ou terá consequências catastróficas para a humanidade. Mesmo que mais uma dúzia de países adquirissem armas nucleares, eles não seriam capazes de acumular o suficiente para ameaçar a existência dos EUA ou da Rússia, muito menos a sobrevivência da espécie humana, ressalta.
Portanto, segundo o analista, embora um conflito entre a Índia e o Paquistão, ou entre o Irã e Israel, fosse dramático para suas populações, ele não colocaria em risco a vida no planeta nem acabaria com a civilização.
"Obviamente, este não é o cenário mais desejável para a política internacional. Mas, por enquanto, parece o mais provável e talvez um mal menor comparado ao pesadelo de um confronto direto entre Moscou e Washington", conclui o especialista.