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Lula defende pacto do Sul Global contra ofensiva antidemocrática e poder dos super-ricos

Durante reunião no Chile, presidente propõe regulação digital, justiça tributária e nova agenda democrática internacional.
Lula defende pacto do Sul Global contra ofensiva antidemocrática e poder dos super-ricosRicardo Stuckert / Presidência da República

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira (21), no Chile, um pacto entre países do Sul Global para enfrentar o avanço de ofensivas antidemocráticas, a concentração de poder nas mãos dos super-ricos e as desigualdades sociais, econômicas e ambientais.

A declaração foi feita durante a Reunião de Alto Nível "Democracia Sempre", que contou com a presença dos presidentes Gabriel Boric (Chile), Pedro Sánchez (Espanha), Gustavo Petro (Colômbia) e Luis Lacalle Pou (Uruguai).

Em discurso no Palácio de La Moneda, Lula afirmou que o encontro tem "uma simbologia muito especial", lembrando que ali a democracia chilena foi alvo de "um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina".

Ele destacou que os países da região "conhecem de perto os horrores das ditaduras" e que "a democracia não se constrói da noite para o dia".

O presidente alertou para o que chamou de nova ofensiva antidemocrática em diferentes partes do mundo. Segundo ele, o cenário global atual exige ações concretas e urgentes para preservar as instituições democráticas, defender os direitos sociais e fortalecer o multilateralismo.

Ao lado de líderes latino-americanos e europeus, Lula reiterou críticas ao modelo político tradicional e ao descrédito dos partidos. "Cumprir o ritual eleitoral a cada quatro ou cinco anos não é mais suficiente", afirmou, acrescentando que é necessário enfrentar os ataques às instituições com medidas estruturais.

Entre as propostas apresentadas, Lula defendeu a criação de uma governança digital global para regulamentar plataformas e combater a desinformação. Segundo ele, "liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, difundir o ódio, cometer crimes e atacar o Estado Democrático de Direito".

O presidente também destacou a urgência de enfrentar as desigualdades que, segundo ele, minam a legitimidade das democracias. "Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta os direitos sociais", disse.

Ele criticou também o abismo entre a elite econômica e os trabalhadores, mencionando que o salário médio global de um presidente de multinacional é "56 vezes maior do que o de um trabalhador".

Como alternativa, Lula propôs medidas de justiça tributária e defendeu que os super-ricos devem "arcar com a sua parte neste esforço". Ele lembrou que 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias e citou a Aliança contra a Fome e a Pobreza, lançada pela presidência brasileira do G20, como uma das respostas a esse desafio global.

Ainda sobre os impactos da crise ambiental, Lula alertou que os efeitos são desproporcionais entre os mais vulneráveis e que "a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima da sociedade e da pátria".

O presidente também defendeu maior integração entre América Latina, Caribe e Europa na promoção dos direitos humanos, da paz e da justiça climática. Segundo ele, a defesa da democracia precisa ir além dos governos e envolver "a academia, os parlamentos, a sociedade civil, a mídia e o setor privado".

Lula anunciou ainda que a iniciativa terá continuidade em setembro, com novo encontro à margem da Assembleia Geral da ONU, reunindo representantes de países da América Latina, Europa, África e Ásia.