Notícias

Cientistas 'ressuscitam' corações em mesa de cirurgia e salvam vida de bebê

O procedimento pode ampliar em até 20% a oferta de órgãos para transplantes infantis.
Cientistas 'ressuscitam' corações em mesa de cirurgia e salvam vida de bebêGettyimages.ru / Morsa Images

Um novo procedimento desenvolvido nos Estados Unidos pode ampliar em até 20% a oferta de corações para transplantes pediátricos, segundo pesquisadores da Universidade Duke. A técnica oferece nova esperança a famílias de bebês que aguardam na fila por um órgão.

Atualmente, a maior parte dos corações usados em transplantes vem de doadores com morte cerebral. No entanto, também é possível recuperar o órgão após a morte circulatória — quando há danos cerebrais irreversíveis, mas ainda existe alguma atividade no cérebro, e a pessoa é retirada dos aparelhos que a mantêm viva.

Nessas situações, o coração para e fica sem oxigênio por alguns minutos, o que compromete sua viabilidade para o transplante. Para contornar esse risco, médicos recorrem à perfusão regional normotérmica (PRN), técnica que restabelece o fluxo de sangue e oxigênio para os órgãos do tórax e do abdômen, com exceção do cérebro.

Controvérsias éticas e limitações técnicas dificultam, no entanto, o uso da PRN em bebês. O procedimento não é autorizado em alguns hospitais, o que leva ao descarte de corações viáveis.

Além disso, segundo o cirurgião Joseph Turek, os dispositivos de perfusão disponíveis não funcionam em crianças pequenas — exatamente as mais afetadas pela escassez de órgãos.

Alternativa inovadora

Para superar esses obstáculos, cientistas desenvolveram um novo método, chamado de ressuscitação em mesa. A técnica consiste em retirar o coração do doador e conectá-lo a tubos que fornecem sangue e oxigênio, permitindo que os médicos avaliem sua função em uma mesa de cirurgia.

O procedimento, testado inicialmente em porcos, já foi usado com sucesso em um transplante realizado em um bebê de três meses. Segundo Turek, levou apenas cinco minutos para confirmar que o coração estava batendo e que as artérias coronárias recebiam sangue. O órgão foi então resfriado e levado para o transplante.

O paciente receptor não apresentou sinais de rejeição nos seis meses seguintes. "Este é um grande avanço na medicina de transplantes pediátricos", afirmou Turek, destacando que a nova abordagem pode ampliar significativamente a disponibilidade de órgãos infantis. Os resultados foram publicados na revista The New England Journal of Medicine.