O problema de saúde dos Yanomamis com o mercúrio, um metal altamente tóxico usado no garimpo ilegal, não é novo no Brasil. Mas um estudo recente revelou dados preocupantes: amostras de cabelo coletadas de 287 pessoas mostraram que 94% estão contaminadas.
O estudo, realizado pela prestigiosa Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Socioambiental (ISA) na Terra Indígena Yanomami, a maior reserva indígena do país, localizada entre os estados do Amazonas e Roraima, onde vivem cerca de 31 mil indígenas em 370 comunidades.
Especificamente, as amostras foram coletadas em nove comunidades na região do rio Mucajaí, um dos bastiões do garimpo ilegal. Os mineiros ilegais usam mercúrio para separar o ouro de outros sedimentos e, quando ele é espalhado no solo ou na água dos rios, as pessoas ficam contaminadas após comerem peixes infectados.
Os pesquisadores observaram que os índios com níveis mais altos de mercúrio apresentavam déficits cognitivos e danos nos nervos das mãos, braços, pés e pernas com maior frequência.
Mulheres grávidas e crianças
Outros impactos incluem taxas alarmantes de anemia, malária e desnutrição crônica, especialmente em mulheres grávidas e crianças. O coordenador do estudo, Paulo Basta, explicou ao veículo Brasil de Fato que, em casos graves de exposição crônica a metais, as mulheres muitas vezes não conseguem levar a gravidez até o fim.
"Quando conseguem dar à luz e apresentam altos níveis de mercúrio, a criança pode nascer com deformidades congênitas, diferentes síndromes genéticas, paralisia cerebral, entre outros problemas", explicou.
Basta detalhou que quando uma mulher grávida come peixe contaminado, o mercúrio "é absorvido no trato gastrointestinal, passa para a corrente sanguínea, se distribui por todo o corpo e, através da placenta, chega ao feto em desenvolvimento".
Os pesquisadores analisaram 47 espécimes de peixes, de 14 espécies diferentes, e todas as amostras apresentaram contaminação por mercúrio.
Danos futuros
Para esses especialistas, a contaminação por mercúrio é apenas a "ponta de um enorme iceberg", pois "causará danos que serão observados a médio e longo prazo".
Em janeiro de 2023, o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou estado de emergência sanitária na área e lançou uma megaoperação contra os garimpeiros. No entanto, um ano depois, os mineiros retornaram ao território, desafiando o Governo.
O Ministério dos Povos Indígenas estima que haja cerca de 7 mil garimpeiros na área - 65% a menos do que um ano atrás, quando eram 20 mil.
"Se nem uma gota de mercúrio for despejada na terra Yanomami hoje, teremos que gerenciar todos esses efeitos por pelo menos um século, porque pode permanecer no ambiente em diferentes formas por até 100 anos", explicou Basta.