
Conferência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa termina sem resolução sobre impasse da futura presidência do bloco

A XV Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) terminou na sexta (18) em Guiné-Bissau, que assumiu a presidência do bloco para o período entre 2025 e 2027.

Pela primeira vez Portugal não foi representado em alto nível, já que estiveram ausentes o Presidente e o primeiro-ministro do país europeu. A reunião foi marcada pelo desentendimento na escolha do país que presidirá o bloco entre 2027 e 2029, indicado como o motivo da ausência portuguesa, o que levou ao adiamento desta decisão para a próxima reunião do bloco.
Ademais, a oposição portuguesa se estendeu ao interesse dos outros países-membros em inserir uma menção à fome em Gaza na declaração final da conferência, o que tampouco ocorreu em razão da falta de consenso entre os nove integrantes.
Por um lado, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), maioria no bloco (nominalmente, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe), apoiaram a pretensão da Guiné-Equatorial, enquanto que Portugal, Brasil e Timor-Leste eram favoráveis à ideia de entregar ao Brasil a presidência após o mandato de Guiné-Bissau.
A disputa entre Brasil e Guiné-Equatorial pela próxima presidência rotativa causa desconforto na organização, já que em 2014 o Brasil apoiou a entrada do país africano no bloco apesar da resistência de Portugal.
Guiné-Equatorial seria, pela ordem alfabética, a próxima a assumir a presidência rotativa, segundo prática normalmente adotada na organização, com algumas exceções, apesar de os estatutos não definirem tal ordem.
Após posições diversas manifestadas pelos países, a declaração final não abordou a próxima presidência do bloco. Os países reafirmaram "o apoio à aspiração do Brasil de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas" e "renovaram o apoio à aspiração do continente africano em estar representado com a categoria de membro permanente" neste mesmo órgão da ONU.
Além disso, os membros "manifestaram seu apoio à aliança global contra a pobreza" e ao "plano de atividades da estratégia de segurança alimentar e nutricional da CPLP", bem como "enfatizaram a necessidade de promover o empoderamento econômico das mulheres como elemento fundamental" para a concretização plena da "agenda estratégica de cooperação para a consolidação econômica na CPLP (2022-2027)".
Nesta mesma conferência ocorreu a posse da embaixadora angolana Maria de Fátima Monteiro Jardim para o cargo de Secretária Executiva da CPLP, bem como o reconhecimento público do Secretário Executivo cessante (2021-2025), o timorense Zacarias Albano da Costa, pelo "trabalho desenvolvido no fortalecimento do Secretariado Executivo, na melhoria do seu funcionamento e na sua capacidade de resposta”.
Cinco Presidentes e dois primeiros-ministros dos países estiveram na reunião, que não contou com uma representação brasileira e portuguesa equivalente. Desta forma, a reunião foi marcada pelo protagonismo dos PALOP frente ao posicionamento dos demais membros.
Apesar do fato de que atualmente mais de oito em cada dez pessoas que falam português no mundo atualmente sejam brasileiros, existe a expectativa de que a África terá a maioria dos falantes do português até o fim do século, conforme previu o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva.
Durante a reunião foi aprovado o status de país observador da Austrália. Os países da CPLP também "registraram com interesse" a candidatura da Ucrânia para este posto. Anteriormente, a organização havia comunicado o interesse da Rússia, que possui relações estreitas com os países do bloco, em se tornar observador associado.




