Casos recentes nos Estados Unidos estão colocando em xeque os protocolos de doação de órgãos por parada circulatória, prática cada vez mais comum diante da crescente demanda por transplantes.
Uma investigação do New York Times publicada domingo (20) revelou episódios chocantes em que pacientes ainda vivos foram considerados mortos e encaminhados à retirada de órgãos.
Diagnósticos suspeitos e mortes apressadas
Um dos casos mais graves ocorreu no Alabama, em 2024. Misty Hawkins, 42, foi declarada morta 103 minutos após ser retirada do respirador, mas teve o coração flagrado batendo no início do procedimento cirúrgico.
A cirurgia foi interrompida, mas a paciente acabou falecendo minutos depois. Especialistas ouvidos pelo jornal apontam que o diagnóstico de morte foi provavelmente precipitado.
A doação após parada circulatória — diferente da morte cerebral, irreversível — depende de um julgamento médico sobre a irreversibilidade do quadro. Ela já responde por um terço das doações nos EUA e cresceu nos últimos anos devido à pressão federal para ampliar o número de transplantes.
Pressões, falhas e risco aos pacientes
Em diversos estados, profissionais de saúde relataram pressões de organizações de captação para acelerar procedimentos, inclusive sugerindo uso de sedativos para apressar a morte.
Há registros de pacientes que demonstraram sinais de consciência antes de serem retirados do suporte de vida — alguns chegaram a se recuperar, como Danella Gallegos, no Novo México.
A Associação de Organizações de Captação de Órgãos defende a prática, considerada vital para salvar vidas, e alega que os cuidados seguem protocolos médicos.
No entanto, especialistas alertam para a falta de supervisão eficaz e denunciam que a pressa por órgãos pode estar comprometendo a segurança de doadores em potencial.