
Chegada da chinesa UnionPay ao Brasil desafia hegemonia dos EUA no setor de cartões

A maior operadora de cartões do mundo, a chinesa UnionPay, está prestes a iniciar operações no Brasil, informou a imprensa local.
O movimento é considerado emblemático por ocorrer em um momento de tensões comerciais entre Brasília e Washington, e pode representar um passo importante para a redução da dependência brasileira de redes de pagamento controladas por empresas dos Estados Unidos.
A operação será viabilizada por meio de parceria com a fintech brasileira Left (Liberdade Econômica em Fintech), que ficará responsável pela emissão dos cartões, integração com bancos, maquininhas e sistemas de pagamento. A função crédito deve ser lançada até o fim de 2025.
Em entrevista exclusiva ao Jornal GGN, o financista José Kobori, que acaba de assumir uma cadeira no conselho da fintech, afirma que aceitou o convite por ver na proposta da empresa um projeto com propósito e potencial transformador.
''Quando fui conhecer o trabalho da fintech Left, percebi que havia ali um verdadeiro propósito, uma intenção real de construir um banco progressista, um banco de esquerda", declarou Kobori ao GGN, lembrando que a bandeira permitirá que usuários direcionem parte dos recursos gerados por operações como o Pix ou o uso de cartões para entidades como o MST ou outros movimentos sociais.

Segundo ele, a chegada da UnionPay vai além da concorrência com outras bandeiras. Trata-se de uma disputa geoeconômica que pode fortalecer a soberania financeira do Brasil, sobretudo em um momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discute novas medidas unilaterais contra o país, como a tarifa de 50% imposta recentemente a produtos brasileiros.
"Esse ataque ao Pix é, na verdade, uma tentativa clara de manter o domínio do capitalismo financeiro americano dentro do Brasil. Visa, Mastercard e American Express faturam bilhões com essas transações por aqui, e não querem abrir mão dessa hegemonia", afirmou Kobori.
Estrutura alternativa de pagamentos
A UnionPay controla hoje cerca de 40% do mercado global de cartões. No Brasil, a Visa e a Mastercard, ambas norte-americanas, dominam as operações, tendo apenas no último trimestre um faturamento próximo de 10 bilhões de dólares, segundo dados de mercado.
Além da oferta tradicional de cartões, a UnionPay traz consigo uma infraestrutura de pagamentos internacionais baseada no sistema CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), desenvolvido pela China como alternativa ao sistema SWIFT, ainda predominante em transações bancárias globais.
A adoção do CIPS pode permitir operações internacionais sem a necessidade de conversão para o dólar, ampliando a autonomia do sistema financeiro nacional.
Perigo do Ocidente
A crescente desconfiança em relação à moeda e aos mecanismos financeiros norte-americanos também foi tema de uma entrevista exclusiva concedida pelo economista brasileiro Paulo Nogueira Batista Jr., ex-diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-vice-presidente do Banco do BRICS.
À RT, Batista Jr. afirmou que a transformação do dólar e outras instituições financeiras ocidentais em instrumento político e econômico passou a representar um "risco sistêmico" para países que não se alinham automaticamente ao Ocidente.
"O uso da moeda como um instrumento militar, como um instrumento de pressão quase militar para minar países que são vistos como hostis pelo Ocidente" é, segundo ele, o principal fator por trás da crescente busca por alternativas.
Em março de 2022, Visa e Mastercard anunciaram que não operariam mais na Rússia, o que fez com que as operações no país fossem feitas, a partir de então, com cartões UnionPay, da China, e Mir, da própria Rússia.
"O que aconteceu com a Rússia foi, em escala dada ao tamanho da Rússia, sem precedentes. Quando os europeus e os americanos tomam cerca de metade, algo em torno de 300 bilhões de dólares, em reservas da Rússia, se isso acontece, qualquer coisa pode acontecer", afirmou o ex-diretor do FMI.
Ele observa que o marco ligou uma espécie de ''sinal de alerta'' em diferentes nações. "A China está inquieta. A China precisa buscar alternativas, e o Oriente está buscando alternativas", pontuou ele, ainda em 2024.

