Tarifas de Trump contra Brasil fazem parte de um ataque 'disfarçado' à China?

O presidente dos EUA também está de olho nos países que compõem o bloco BRICS.

A decisão do governo de Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA parece ser uma estratégia voltada mais para boicotar o comércio bilateral entre Brasil e China, e ao mesmo tempo, um golpe para tentar abalar a crescente economia que se forma dentro da comunidade de países BRICS.

Trump alega que os EUA mantêm com o Brasil uma "relação comercial muito injusta" e considera que está "longe de ser recíproca" e "não tem sido boa".

Por isso, o presidente americano colocou o Brasil como mais uma de suas 'vítimas' tarifárias, uma medida que não deixa de ter um tom político devido à postura de Trump em defesa do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, acusado de tentar dar um golpe de Estado em 2023.

Diante de tal cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu que a informação levantada por Trump sobre um desequilíbrio comercial é "falsa" e, com base em números, apontou que os EUA têm um superávit no comércio de bens e serviços com os brasileiros que chegou a 410 bilhões de dólares nos últimos 15 anos.

Lula reiterou que "o Brasil é um país soberano, com instituições independentes, que não aceita ser tutelado por ninguém" e que "qualquer medida de aumento unilateral de tarifas será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica".

Principal parceiro comercial

A relação estratégica entre brasileiros e chineses se aprofundou nos últimos anos. Uma prova disso é que o gigante asiático anunciou em maio passado uma nova onda de investimentos para o Brasil que supera os cinco bilhões de dólares.

A notícia foi divulgada após um fórum empresarial com a participação de autoridades dos dois países e cerca de 200 empresários brasileiros na presença de Lula, que viajou a Pequim como parte de uma viagem internacional que incluiu uma parada anterior na Rússia.

Naquele momento, Lula declarou que, na última década, a China se tornou "o principal investidor asiático" em seu país, com "mais de 54 bilhões de dólares" em investimentos.

Naquele momento, em alusão aos EUA e seus aliados, Lula indicou que a China tem sido tratada "como se fosse um inimigo do comércio mundial", quando, na verdade, se comporta "como um exemplo" ao "fazer negócios com países que foram esquecidos nos últimos 30 anos por muitos outros".

Esses números podem ser os que mais causam alarme a Trump e justificariam, segundo a postura do presidente americano, sua guerra tarifária contra o Brasil, especialmente pela visão de "inimigo" que Washington mantém em relação à China.

A postura da China

No início da semana, a China instou os EUA a não reavivar a tensão comercial entre os dois países, que havia alcançado uma trégua frágil acordada em Londres em junho passado após Trump ter imposto tarifas superiores a 100% sobre produtos chineses.

A porta-voz chinesa, Mao Ning, afirmou que seu país "já deixou clara sua posição em mais de uma ocasião. A guerra comercial e as tarifas não têm vencedores, e o protecionismo não leva a lugar nenhum".

Além disso, em uma coluna do jornal do Partido Comunista Chinês, foi indicado que "o abuso de tarifas por parte dos EUA é uma prática típica de intimidação unilateral que teve um impacto grave na ordem comercial internacional e deve ser firmemente rejeitada".

Por essa razão, o partido chinês defendeu "uma ordem comercial internacional saudável e estável" e ressaltou que o acordo alcançado em Londres demonstra que "o diálogo e a cooperação são o caminho certo para resolver disputas econômicas e comerciais", ao contrário da "chantagem e da coerção".

As declarações da China foram feitas após Trump anunciar que aplicaria tarifas mais altas a partir de 1º de agosto depois de ter adiado sua guerra tarifária decretada em abril — exceto uma tarifa de 10% — a fim de dar tempo aos países afetados para negociarem com os EUA. Em particular, os asiáticos têm até 12 de agosto para chegar a um acordo.

Punhal contra os BRICS?

Nessa nova ofensiva, Trump voltou a agitar os alicerces do comércio internacional ao anunciar a imposição, sem "exceções", de uma tarifa adicional de 10% sobre os países que estiverem alinhados com as políticas "antiamericanas" promovidas pelos BRICS, grupo liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ao qual se juntaram recentemente Egito, Irã e Emirados Árabes Unidos.


Ao contrário do pacote tarifário geral lançado por Trump em abril —que contempla tarifas base de 10% e ameaças de aumentá-las para até 70% para países sem acordo comercial com os EUA— essa decisão representa uma ação específica para conter a crescente influência dos BRICS no cenário global.

A porta-voz da Chancelaria chinesa lembrou que os BRICS são "uma plataforma importante para a cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento".

"Promovemos a abertura, a inclusão e a cooperação mutuamente benéfica. Não é um bloco para confrontação, nem ataca nenhum país", disse.

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