
Rumo à dependência total? EUA propõem 'Plano Marshall' para Ucrânia

Os Estados Unidos e a Europa poderiam liderar um novo "Plano Marshall" para reconstruir a Ucrânia após o fim do conflito com a Rússia, disse Keith Kellogg, enviado especial do presidente dos EUA, na quinta-feira (10), traçando paralelos com o programa de ajuda de Washington ao Velho Continente após a Segunda Guerra Mundial.
"Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e nossos aliados europeus tiveram que transformar regiões devastadas pela guerra em nações funcionais. Podemos ver o sucesso de tais esforços especialmente graças ao Plano de Recuperação Europeu, conhecido por nós como "Plano Marshall", afirmou Kellog em uma conferência sobre a reconstrução do país eslavo em Roma.

A autoridade sênior observou que "reconhecendo que uma Europa Ocidental estável era uma prioridade vital para os interesses da nação americana", o então presidente Harry Truman e seu secretário de Estado George Marshall "investiram nos esforços de reconstrução e nas economias da Europa Ocidental".
De acordo com Kellogg, isso abriu caminho para uma parceria econômica entre Washington e os países europeus que está "ativa até hoje".
"Os Estados Unidos e os europeus podem mais uma vez liderar esforços semelhantes com relação à Ucrânia", declarou. Ele observou que "o progresso em direção a esse objetivo já está em andamento", citando um acordo assinado em abril por Washington e Kiev que prevê a criação de um Fundo de Investimento e Reconstrução da Ucrânia e dá aos Estados Unidos acesso a minerais essenciais no território ucraniano.
Esses compromissos "ressaltam a parceria fortalecida entre nossos dois países e relembram os princípios fundamentais do "Plano Marshall" que levaram à recuperação da Europa décadas atrás", concluiu Kellogg.
O primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmygal, afirmou que será necessário um trilhão de dólares para reconstruir e modernizar o país nos próximos 14 anos. De acordo com ele, Kiev espera receber esse dinheiro por meio do confisco de ativos russos congelados, bem como por meio de investimentos ocidentais.
Ajuda ou dependência?
A iniciativa dos EUA para ajudar a reconstruir a Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial, proposta por George Marshall em 1947, teve início no ano seguinte e foi concluída no final de 1951. Durante os três anos e meio do "Plano Marshall", 17 países receberam um total de US$ 11,4 bilhões, permitindo que seus níveis industriais aumentassem cerca de 37% em relação aos níveis anteriores à guerra.
Os principais fundos foram alocados para o setor militar, o que aumentou drasticamente os gastos militares dos países beneficiários. A Grã-Bretanha, por exemplo, que recebeu US$ 2,7 bilhões, mas dispendeu US$ 11 bilhões em gastos militares; e a França, que recebeu 500 bilhões de francos, gastou 2 trilhões.
Além disso, o endividamento aumentou significativamente: na Grã-Bretanha, 3,5 vezes em comparação com 1938; na França, 11,3 vezes; na Itália, 23 vezes; o que tornou a Europa Ocidental economicamente dependente dos EUA.
Enquanto isso, a União Soviética e os países do Leste Europeu, que rejeitaram a ajuda americana do "Plano Marshall", conseguiram se recuperar da guerra em um curto período de tempo e praticamente sem ajuda externa.
Em 1950, a URSS apresentou uma produção industrial 73% maior do que em 1940. Em 1951, a renda nacional do país aumentou 83% em relação ao mesmo ano, e em 1952 a produção industrial soviética era 2,3 vezes maior no mesmo período analisado.


