O empresário Elon Musk, proprietário do X e da SpaceX, voltou a criticar o governo dos Estados Unidos acusando-o de negligência em relação a um dos casos mais sensíveis da política e justiça norte-americana: os arquivos relacionados a Jeffrey Epstein.
Na terça-feira (8), Musk questionou diretamente a credibilidade do presidente dos EUA, Donald Trump, ao cobrar a liberação integral dos documentos sobre Epstein — financista acusado de liderar uma rede de exploração sexual de menores e que morreu sob custódia federal em 2019. "Como se pode esperar que as pessoas confiem em Trump se ele não liberar os arquivos de Epstein?", escreveu Musk na plataforma X.
Tal crítica não é isolada. O bilionário já se posicionou diversas vezes contra o que chama de "inércia institucional" nos EUA, especialmente em temas de alto impacto público. Quando um seguidor perguntou se a desclassificação dos documentos relacionados a Epstein seria prioridade para o America Party — legenda em formação com a qual Musk pretende romper o duopólio entre democratas e republicanos — ele respondeu de forma enfática: "100".
Trump, que prometeu em sua posse divulgar documentos sobre o caso, autorizou a liberação de parte dos arquivos. No entanto, os conteúdos divulgados até agora não trouxeram informações novas, limitando-se a dados já de conhecimento público. Nesta segunda-feira, durante uma reunião de gabinete, o presidente se irritou com questionamentos da imprensa sobre o caso e afirmou que há "assuntos mais importantes" a serem tratados.
Conflito público entre Musk e Trump
A tensão entre Musk e Trump não é recente. O empresário rompeu publicamente com o presidente após se posicionar contra o que Trump chamou de The One Big Beautiful Bill ("o grande e belo projeto de lei") — referência ao orçamento federal — o que deu início a uma disputa aberta entre os dois.
No início de junho, Musk chegou a sugerir em uma publicação no X que o próprio Trump poderia estar envolvido no caso Epstein. A postagem foi apagada pouco depois, mas gerou repercussão. Em resposta, o presidente declarou: "Nunca estive no avião de Epstein, nem na ilha estúpida dele".
A troca de acusações se intensificou nesta terça-feira quando Musk acusou Steve Bannon — ex-conselheiro de Trump — de também ter conexões com Epstein. A declaração veio após Bannon atacar o empresário, alegando que sua condição de estrangeiro o desqualifica para atuar na política interna dos EUA e que ele deveria ser deportado.
Campanha de ironias e críticas
Musk também tem usado o sarcasmo para expor o que considera omissão das autoridades. Após relatórios do FBI e do Departamento de Defesa negarem a existência de uma "lista de clientes" e afastarem a hipótese de assassinato no caso Epstein, ele postou imagens criticando a ausência de responsabilizações.
"Que horas são? Ah, claro, é hora de mais uma vez ninguém ser preso", escreveu, ao lado da imagem de um contador digital marcando '0 0 0 0 0', que ele chamou de 'contador oficial de prisões por pedofilia no caso Epstein'.
Outra imagem publicada na terça-feira dizia: "Mais esquilos e guaxinins foram presos do que qualquer pessoa da lista de Epstein". Ele completou: "Prenderam (e mataram) o Peanut, mas não tentaram acusar ninguém da lista de Epstein. O governo está profundamente quebrado".
A referência a Peanut alude a um caso real ocorrido em Nova York no ano passado, quando autoridades sacrificaram um esquilo de estimação após denúncias de que o animal estaria contaminado com raiva. Posteriormente, exames descartaram qualquer infecção, revelando a precipitação da ação estatal.
O enigma dos arquivos Epstein
Jeffrey Epstein, que morreu em agosto de 2019 em uma prisão federal, estava no centro de uma investigação sobre tráfico sexual de menores envolvendo figuras da elite global. Documentos ligados ao caso citam nomes poderosos, como o príncipe Andrew, o bilionário Glenn Dubin e o ex-governador do Novo México, Bill Richardson.
Acredita-se que existam milhares de páginas e vídeos produzidos ao longo das investigações. No entanto, apesar de especulações sobre uma suposta "lista secreta de clientes", nenhuma informação concreta sobre isso foi oficialmente confirmada.
A procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, chegou a declarar em fevereiro que essa lista estava "sobre sua mesa", aguardando análise. Meses depois, voltou atrás e afirmou que tal lista "não existe".
Em entrevista recente à Fox News, o ex-agente da CIA John Kiriakou levantou a hipótese de que documentos cruciais do caso podem ter sido destruídos por agências de inteligência como o FBI e a própria CIA — o que, segundo ele, já ocorreu em outros casos sensíveis no passado.