
Seria possível que um cessar-fogo seja alcançado em Gaza nos próximos dias?

Um cessar-fogo temporário entre Hamas e Israel pode ser alcançado antes do final desta semana, afirmou o enviado dos EUA ao Oriente Médio, Steve Witkoff, na terça-feira (8) enquanto continuam os esforços internacionais para pôr fim ao conflito que assola a Faixa de Gaza há mais de 20 meses.
De acordo com Witkoff, "conversas indiretas" estão em andamento e algumas questões estão sendo resolvidas enquanto os negociadores trabalham para que se possa chegar a um acordo. "Esperamos que até o final desta semana tenhamos um acordo que nos permita um cessar-fogo de 60 dias", disse durante reunião de gabinete de Donald Trump.
O presidente dos EUA chamou a situação na Faixa de Gaza de "tragédia", enfatizando que tanto o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu quanto ele próprio querem uma solução. "E acho que o outro lado [Hamas] quer resolver o problema", afirmou.

"Engajamento positivo"
Uma nova rodada de conversações indiretas entre Hamas e Israel foi retomada no domingo em Doha sob a mediação de Catar, Egito e EUA. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed bin Mohammed Al-Ansari, confirmou na terça-feira que ambas as delegações estão em Doha para discutir a proposta de cessar-fogo, afirmando que há um "engajamento positivo no momento" entre os dois lados.
Embora as conversações formais ainda não tenham começado, por meio de reuniões separadas mediadas pelo Catar, "esperamos poder estabelecer uma estrutura que será decisiva para que as conversações sejam bem-sucedidas e levem menos tempo do que levariam de outra forma", disse um porta-voz, segundo a Xinhua.

Discordâncias entre Hamas e Israel
O Hamas confirmou na última sexta-feira que havia enviado uma resposta "positiva" aos mediadores sobre uma proposta atualizada de cessar-fogo apresentada pelo Catar e baseada em uma iniciativa de Witkoff.
O movimento também propôs emendas "limitadas" à proposta, incluindo pedidos para retirar as forças israelenses de certas áreas de Gaza, restaurar as operações de ajuda humanitária lideradas pela ONU e garantir que as negociações continuem além do período inicial de 60 dias para chegar a um cessar-fogo permanente, disse uma fonte palestina à Xinhua.
O gabinete do primeiro-ministro israelense descreveu essas mudanças como "inaceitáveis", mas, "após uma avaliação da situação, Netanyahu aceitou o convite para conversas indiretas".
No entanto, duas fontes disseram à Sky News que ainda existem divergências entre Israel e Hamas sobre o status e a presença das Forças de Defesa de Israel (IDF) dentro de Gaza.
Contudo, as fontes revelaram a Sky News que os dois lados superaram diferenças significativas em outras questões, incluindo o processo de distribuição de ajuda humanitária e a exigência do Hamas de que os EUA garantam que Israel não retome unilateralmente a ofensiva quando o cessar-fogo expirar em 60 dias.

Israel "busca bloquear a criação de um Estado palestino"
O primeiro-ministro palestino Mohammad Mustafa também enfatizou na terça-feira (8) a probabilidade cada vez maior de um cessar-fogo quase total na Faixa de Gaza, dizendo que o governo espera que tais esforços sejam bem sucedidos e rapidamente alcançados, informa a WAFA.
Segundo o primeiro-ministro, os preparativos estão em andamento para coordenar as operações de ajuda humanitária para o povo de Gaza e para organizar uma conferência sobre a reconstrução do enclave.
No entanto, Mohammad Mustafa denunciou que Israel está fazendo todo o possível para enfraquecer a Autoridade Nacional Palestina - organização administrativa autônoma que governa a Faixa de Gaza e parte da Cisjordânia em caráter transitório desde 1994 - e para bloqueá-la financeiramente.
Mohammad enfatizou que Tel Aviv "busca bloquear a criação de um Estado palestino" apesar do amplo consenso internacional a seu favor.
Deslocamento dos palestinos
Netanyahu sugeriu na segunda-feira, durante reunião com Trump, que Washington e Tel Aviv estão trabalhando para garantir o deslocamento em massa dos palestinos, uma ideia que já foi proposta pelo presidente dos EUA ainda em fevereiro.
"Estamos trabalhando em estreita colaboração com os EUA para encontrar países que estejam trabalhando para tornar realidade o que sempre é dito: que querem prover aos palestinos um futuro melhor. Acho que estamos perto de encontrar vários, e isso será suficiente", disse.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, anunciou que Tel Aviv planeja construir uma "cidade humanitária" no sul da Faixa de Gaza para confinar todos os habitantes do enclave.
Segundo o plano, a estrutura seria erguida sobre as ruínas da cidade de Rafah e abrigaria inicialmente cerca de 600 mil palestinos que vivem atualmente na região de Mawasi. Antes, porém, os residentes seriam submetidos a investigações para impedir a entrada de membros do Hamas.
Uma vez instalados no local, os habitantes não poderiam sair. Katz afirmou que as IDF seriam responsáveis pela segurança do local "à distância", mas que a área seria administrada por organismos internacionais, embora não tenha especificado quais.
O plano recebeu duras críticas, pois implica no deslocamento em massa e na concentração da população sob rigorosa vigilância militar


