Lula e Modi assinam acordos e fazem balanço sobre parcerias

O presidente brasileiro e o primeiro-ministro da Índia discutiram áreas prioritárias como defesa, segurança alimentar, transição energética, digitalização e indústria.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta terça-feira (8), o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em Brasília, para uma Visita de Estado que inaugura uma nova etapa nas relações bilaterais. No encontro, os dois líderes definiram cinco pilares prioritários para orientar a cooperação entre Brasil e Índia ao longo da próxima década.

Durante coletiva de imprensa, Lula enfatizou que Brasil e Índia, nações megadiversas e democráticas, não podem permanecer distantes. "É muito importante que as pessoas compreendam que um país mega diverso como o Brasil tem a obrigação de ter uma relação política, cultural, econômica e comercial com outro país mega diverso como a Índia", afirmou.

Entre os temas destacados estão a defesa e a segurança, com a expectativa de intensificação dos intercâmbios militares e tecnológicos. O presidente lembrou que os três comandantes das Forças Armadas brasileiras visitaram a Índia desde o início de seu governo, e destacou o interesse da Embraer em consolidar presença no país asiático. "Os aviões da empresa podem ajudar o país a concretizar o plano UDAM, para que todos os indianos possam voar", disse.

Entre os acordos assinados, destacou-se o combate ao terrorismo e ao crime organizado transnacional. Lula expressou condolências a Modi pelo recente atentado em Caxemira e afirmou que a negociação de um cessar-fogo entre Índia e Paquistão representa "um exemplo de sensatez para o mundo".

A segurança alimentar e nutricional também ganhou protagonismo, refletindo a preocupação conjunta com o abastecimento sustentável em meio a crises globais.O presidente citou a colaboração entre os países na área da agropecuária. "Nossa pecuária deve muito à Índia. 90% do rebanho zebuíno brasileiro é resultado de anos de intensa cooperação bilateral e melhoramento genético", disse.

Outro ponto destacado por Lula foi a participação indiana na aliança global contra a fome e a pobreza, e o papel dos dois países como líderes da transição energética. "Mostraremos que é possível aliar redução das emissões de gases de efeito estufa, crescimento econômico e inclusão social", declarou.

Outro eixo relevante é a transição energética e o enfrentamento da mudança climática, com foco em energias renováveis e soluções de baixo carbono.

Lula convidou a Índia a integrar o Fundo Floresta Tropical para Sempre, voltado à remuneração de países que preservam suas florestas, e anunciou a criação de um centro de excelência em tecnologias digitais baseado em códigos abertos, inspirado em experiências indianas.

A transformação digital e as tecnologias emergentes, como inteligência artificial e conectividade, foram apontadas como áreas centrais para o desenvolvimento de ambos os países.

O quinto pilar da parceria inclui a ampliação das parcerias industriais em setores considerados estratégicos, como a indústria aeronáutica, farmacêutica, o setor de petróleo e gás, além da exploração de minerais críticos.

Representação na ONU

Na avaliação de Lula, o atual cenário global exige que Brasil e Índia ocupem assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU. "É inaceitável que países do porte da Índia e do Brasil não ocupem assentos permanentes", disse, reforçando a defesa do multilateralismo.

O presidente também criticou o aumento global dos gastos militares em detrimento de investimentos em áreas sociais. "O mundo gastou 2 trilhões e 700 bilhões em armas e não gastou quase nada para cuidar do clima", afirmou.

Em tom de crítica à postura dos países ocidentais, Lula afirmou que "os membros fixos do Conselho de Segurança da ONU que deveriam primar pela paz são exatamente aqueles que mais estimulam a guerra", citando conflitos como os do Iraque, da Líbia e da Ucrânia.

"Nós não queremos uma nova guerra fria. Queremos mais comércio, mais democracia e respeito à soberania dos nossos países", declarou, encerrando o discurso ao lado do primeiro-ministro indiano.