EXCLUSIVO: Stedile, do MST, defende Bolsa de Grãos do BRICS e critica domínio especulativo nos alimentos

Dirigente do Movimento Sem Terra diz que proposta russa pode conter especulação e garantir soberania alimentar aos países.

Uma bolsa de grãos criada pelos países do BRICS pode ser o primeiro passo para enfrentar a especulação nos preços dos alimentos e tirar das mãos de grandes corporações o controle sobre os estoques globais. A avaliação é de João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e conselheiro da delegação brasileira no Conselho Popular da Cúpula dos Líderes do BRICS.

Em entrevista exclusiva à RT, Stedile defendeu a proposta apresentada pela Rússia e já endossada pelos ministros da Agricultura do grupo, que pretende estabelecer uma plataforma comum para a comercialização de grãos, como alternativa às bolsas ocidentais.

"A iniciativa é muito boa, e vai ajudar a que os países assumam o comando, o controle de estoque de grãos, que hoje se transformaram apenas em commodities agrícolas, controladas por 5 empresas globais. Isso vai ajudar também a terminar com a especulação das bolsas de futuro, que jogam o preço dos grãos nas alturas e prejudicam a todos que deles necessitam", afirmou.

A concentração do mercado em bolsas como a de Chicago, nos Estados Unidos, tem sido alvo de críticas por permitir que fundos especulativos e grandes operadores determinem os preços de alimentos básicos em escala global. Para Stedile, uma bolsa vinculada ao BRICS seria um instrumento para restaurar a soberania alimentar dos países do Sul Global.

Além da articulação no campo da política internacional, o MST também vem buscando ampliar sua cooperação técnica com a Rússia. Segundo o dirigente, há diálogos em curso com universidades e membros do conselho civil russo, com foco em experiências agroecológicas e alternativas energéticas para o campo.

"Estamos construindo um diálogo com eles, seja com os membros do conselho civil da Rússia, seja através da universidade. Eles têm uma tradição de conhecimento em agroecologia, que nos interessa aprofundar e intercambiar, talvez até mandando estudantes fazer cursos por lá. Também nos interessa o uso de caldeiras a gás, que eles têm em muitas escalas diferentes e que podem nos ajudar a substituir aqui as caldeiras a lenha", explicou.

Na plenária dos líderes do BRICS, realizada no âmbito da Cúpula no último domingo (6), Stedile representou o Conselho Popular da organização e leu um documento conjunto elaborado por todos os seus membros. O texto apresenta propostas para integração entre os países, combate às desigualdades e fortalecimento de economias nacionais.