Com base nas análises do professor Paulo Gaia, da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), a equipe da RT Brasil reuniu cinco fatores que reforçam o papel estratégico dos BRICS na reorganização da economia mundial.
1. PIB dos BRICS supera o do G7
O Produto Interno Bruto conjunto dos BRICS representa 32,1% da economia global, ultrapassando os 29,9% do G7 - grupo formado por Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. Esse dado reforça uma possível tendência de desdolarização no médio e longo prazo.
O avanço numérico, apontado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), reflete a crescente importância dos mercados emergentes e sinaliza uma mudança gradual no centro de gravidade da economia mundial - do eixo transatlântico para o Sul Global e o Leste.
2. Adesão crescente
O BRICS vem se consolidando como um polo de atração geopolítica e econômica para países do Sul Global. Dezoito países já manifestaram interesse em integrar a organização. Na cúpula do BRICS de 2023, realizada em Joanesburgo, foi aprovada a ampliação do grupo com a inclusão de cinco novos países a partir de 1º de janeiro de 2024: Arábia Saudita, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
Com a entrada desses membros, o BRICS passa a contar com 11 países, o que representa uma fatia ainda maior da economia e da população mundial.
Estima-se que, com a nova configuração, a organização reunirá cerca de 46% da população global — mais de 3,6 bilhões de pessoas — e será responsável por aproximadamente 37% do PIB mundial em paridade de poder de compra (PPC), segundo dados do FMI e do Banco Mundial.
A entrada de grandes produtores de energia, como Arábia Saudita e Irã, também confere ao BRICS maior influência nos mercados globais de petróleo e gás, além de reforçar a presença do BRICS no Oriente Médio e no norte da África. Já a adesão de países africanos como Egito e Etiópia amplia o alcance geopolítico do grupo em um continente estratégico, rico em recursos naturais e com crescente peso demográfico.
3. Consolidação tecnológica da Índia
A Índia registra um crescimento acelerado no setor de tecnologia digital. Em 2021, suas exportações de software somaram US$ 133 bilhões — superando, em valor, as exportações de petróleo da Arábia Saudita, que totalizaram US$ 113 bilhões.
Além disso, o sucesso da primeira missão lunar indiana sinaliza o avanço tecnológico do BRICS, aproximando a organização da liderança em operações espaciais, hoje ainda dominada pelos Estados Unidos.
4. China como gigante sustentável
Maior economia do mundo, a China também se destaca como referência na produção de tecnologias verdes. Recentemente, o país comprou 97% do lítio exportado pela Austrália — o maior produtor global do mineral, essencial para baterias de carros elétricos. Atualmente, a China responde por 57% da produção mundial desses veículos.
O país também lidera em investimentos em infraestrutura verde, sendo o maior financiador de projetos de energia solar e eólica do planeta. Somente em 2023, a China investiu mais de US$ 890 bilhões em tecnologias de baixo carbono, segundo a BloombergNEF — mais do que os Estados Unidos e a União Europeia juntos.
5. Força e tamanho do Brasil e da Rússia
Rússia e Brasil estão entre os cinco maiores países em extensão territorial e figuram entre as principais economias do mundo. Juntos, somam uma população de aproximadamente 350 milhões de pessoas — reforçando o peso demográfico e econômico do BRICS.
A Rússia, com vastas reservas naturais, é um dos principais exportadores globais de energia, incluindo gás natural, petróleo e carvão. Essa capacidade confere ao país um papel central na segurança energética global, especialmente para países da Ásia e Europa.
Além disso, Moscou vem intensificando sua cooperação econômica com os demais membros dos BRICS, sobretudo em áreas como defesa, infraestrutura e agricultura.
No campo tecnológico, a Rússia também investe pesadamente em inovação militar, aeroespacial e nuclear, o que contribui para o fortalecimento dos BRICS em termos estratégicos.
O Brasil, por sua vez, se destaca como líder regional na América do Sul e potência agrícola mundial. É o maior exportador global de produtos como soja, carne bovina e café. O país também possui a maior reserva de água doce do mundo.
No contexto dos BRICS, o Brasil atua como uma ponte entre o Hemisfério Sul e as principais economias emergentes.
A presença ativa de Moscou e Brasília garante à organização uma combinação estratégica de recursos naturais, potencial industrial, base populacional e influência geopolítica em regiões-chave do planeta.
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