A Argentina de Javier Milei deixou a presidência temporária do Mercosul com um apelo para que os países evitem deixar que ''diferenças em questões secundárias'' dividam o bloco. Ao mesmo tempo, no entanto, o presidente argentino ameaçou atuar de forma independente caso o grupo resista a uma maior abertura comercial.
"Devemos, em definitivo, parar de pensar no Mercosul como um escudo que nos proteja do mundo e começar a pensá-lo como uma lança, que nos permita penetrar de forma efetiva nos mercados globais", declarou ao inaugurar a cúpula do bloco sul-americano, realizada em Buenos Aires. Estavam presentes os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil); Luis Arce (Bolívia); Santiago Peña (Paraguai); Yamandú Orsi (Uruguai) e José Raúl Molino (Panamá).
Para o chefe de Estado argentino, o Mercosul deve utilizar o diálogo como um "ponto de partida para alcançar os objetivos e não um fim em si mesmo". Nesse sentido, o bloco deveria "acelerar a marcha" por uma abertura comercial "mais profunda e adequada à realidade de nossos povos", afirmou.
A sessão de trabalho aberta por Milei foi marcada por tensões, especialmente pelas diferenças ideológicas entre os chefes de Estado. Cabe destacar que em 2023, o argentino chegou a chamar Lula de "comunista" e "corrupto", além de declarar que não faria negócios com o Brasil.
"Sozinhos ou acompanhados"
"Não devemos permitir que nossas diferenças em questões secundárias nos dividam, também sabemos que adotar estas ideias resultará em um novo equilíbrio, sempre uma nova ordem tem seus custos", destacou.
Milei entregou a presidência pro tempore do Mercosul ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem pediu que desse continuidade às políticas promovidas pela Argentina durante o semestre em que liderou o bloco. Também fez um alerta aos demais países-membros.
"Caso os parceiros do bloco queiram seguir um caminho que não nos trouxe resultados, então teremos que insistir em flexibilizar as condições da parceria que nos une. Empreenderemos o caminho da liberdade e o faremos acompanhados ou sozinhos porque, como já disse, a Argentina não pode esperar”, afirmou.
Milei declarou que a região necessita de maior atividade comercial e econômica, impulsionando investimentos e garantindo empregos.
"Por isso precisamos de mais liberdade de maneira urgente. Nossa nação decidiu deixar para trás décadas de estagnação e trilhar o caminho do progresso. Cabe aos nossos parceiros do Mercosul decidir se querem nos ajudar a seguir o caminho que escolhemos", destacou.
Desde que assumiu, Milei insistiu na troca das normas que restringem a possibilidade de que cada membro do Mercosul busque acordos comerciais de forma individual com outros países, proposta rechaçada por Lula.