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Brasil assume presidência do Mercosul em meio a impasse com a União Europeia

Lula assume o comando do bloco com o desafio de avançar negociações estagnadas e fortalecer alianças.
Brasil assume presidência do Mercosul em meio a impasse com a União EuropeiaGettyimages.ru / Myke Sena

O presidente da Argentina, Javier Milei, transfere nesta quinta-feira (3) a presidência temporária do Mercosul ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro de chefes de Estado em Buenos Aires.

O Brasil assume o comando do bloco em um momento marcado por dificuldades para avançar no acordo comercial com a União Europeia.

Acordo com a União Europeia segue travado

O tratado entre Mercosul e União Europeia está paralisado há anos por divergências regulatórias e pressões internas. Como o bloco exige consenso para a tomada de decisões, as negociações avançam lentamente.

Embora um pacto político tenha sido firmado no fim de 2024, ainda falta a apresentação do texto jurídico final e sua tradução, etapas necessárias para que o acordo seja submetido à ratificação nos parlamentos dos países envolvidos. Lula tem buscado apoio de líderes europeus para destravar o processo.

Lula busca apoio da França

"A França não tem melhor amigo na América do Sul do que o Brasil, e o Brasil não tem melhor amigo na Europa do que a França", afirmou Lula no mês passado, durante encontro com o presidente francês Emmanuel Macron, em Paris.

Em entrevista coletiva, Lula classificou o tratado como "acordo mais excepcional" e afirmou que ele representa "uma resposta ao unilateralismo" que, segundo ele, tem ganhado força no cenário internacional. "Queremos demonstrar que o multilateralismo sobreviverá", declarou.

"É importante que nunca esqueçamos: o Mercosul e a União Europeia somam uma população de 722 milhões de habitantes e um PIB de 22 trilhões de dólares", acrescentou o presidente.

Setor agrícola é principal obstáculo

O principal entrave à conclusão do acordo está no setor agrícola. Em entrevista à GloboNews, Macron declarou que há interesse em fortalecer os vínculos com o Mercosul, mas reconheceu que as diferenças nas regras sanitárias entre os dois blocos continuam sendo um desafio.

"Nosso problema, na Europa, é que estabelecemos regras sanitárias muito rigorosas para os agricultores em relação ao uso de defensivos agrícolas: vários desses produtos estão proibidos. Se o Mercosul quer produzir bens do setor agropecuário e exportar para a Europa, então deve cumprir as mesmas regras", disse Macron.

Ele afirmou ainda que a França está disposta a assinar o tratado se o Mercosul aceitar incluir uma cláusula de salvaguarda.

"Estou convencido de que, antes de deixar a presidência do Mercosul, teremos assinado este acordo com todos sorrindo", declarou Lula em Paris.

Panamá participa pela primeira vez

A cúpula do Mercosul teve início na quarta-feira, 2, com reunião entre ministros da Economia e presidentes dos Bancos Centrais dos países-membros e associados, na sede da chancelaria argentina.

Nesta quinta, ocorre o encontro dos presidentes. Pela primeira vez, o Panamá participa oficialmente da reunião, com a presença do presidente José Raúl Mulino.

"Como Estado associado, o Panamá poderá participar dos processos econômicos, comerciais e de cooperação com o Mercosul, sem aderir ao acordo da tarifa externa comum", informou a Presidência panamenha à imprensa local.

Mulino destacou que o país oferece ao bloco sua plataforma logística como porta de entrada para os mercados da América Central e do Caribe.

Composição atual do bloco

O Mercosul é formado por cinco membros plenos: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Também participam como Estados associados o Chile, Peru, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname e, agora, o Panamá.