
CIA expõe falhas e pressa em relatório sobre suposta interferência russa em 2016, reforçando que acusações são infundadas

A CIA identificou "inúmeras anomalias" na elaboração de um relatório de 2016 sobre a suposta interferência russa na eleição presidencial dos EUA com o objetivo de favorecer Donald Trump — alegações que Moscou sempre negou. A conclusão faz parte de uma nova análise divulgada na quarta-feira (3).
O foco do documento está na conclusão das agências de inteligência dos EUA de que o líder russo, Vladimir Putin, "aspirava" à vitória de Trump naquele pleito.

Segundo o relatório, a falta de tempo para a elaboração do documento, o acesso desigual dos revisores às informações usadas como base e o envolvimento excessivo da cúpula da inteligência americana prejudicaram o rigor técnico, especialmente nessa conclusão.
De acordo com a análise, os autores do relatório original tiveram menos de uma semana para redigi-lo e menos de dois dias para coordená-lo com colegas da Comunidade de Inteligência (IC). Normalmente, a produção de um documento do tipo leva meses.
A pressa em concluir o relatório antes da transição presidencial levantou suspeitas de que poderia haver motivação política por trás da tarefa e do cronograma definido pela Casa Branca.
Exclusões e interferências
Um funcionário da CIA ouvido no novo relatório afirmou que "alguns analistas e gerentes importantes não foram autorizados a analisar os aspectos mais controversos" da inteligência usada e só tiveram acesso a trechos do documento fora de contexto.
O envolvimento direto dos chefes das agências de inteligência foi considerado incomum em escopo e intensidade, interrompendo os trâmites normais de revisão e comprometendo a consistência da análise. O Conselho Nacional de Inteligência, responsável por supervisionar relatórios do tipo, foi excluído do processo.
O novo documento também critica a inclusão, como anexo, do dossiê controverso do ex-agente britânico Christopher Steele, que apontava uma conspiração entre a campanha de Trump e autoridades russas.
O então diretor da CIA, John Brennan, insistiu em incorporar o material, mesmo diante da oposição dos autores do relatório e de funcionários seniores da agência, que alegaram que o conteúdo não atendia aos critérios básicos de qualidade técnica.
O que foi o dito "Russiagate"?
Washington acusou repetidamente Moscou de interferir nas eleições americanas de 2016. Em 2018, o Comitê de Inteligência da Câmara dos EUA encerrou sua investigação sobre o caso sem encontrar provas de conluio entre a campanha de Trump e o governo russo.
No mesmo ano, jornalistas do New York Times e do Washington Post receberam o Prêmio Pulitzer por reportagens sobre a alegada interferência russa — narrativa que os democratas usaram para explicar a derrota nas urnas.
Em 2023, um levantamento publicado pelo próprio Washington Post apontou que contas atribuídas à Rússia no Twitter (atual X) não influenciaram o resultado da eleição.
O Kremlin rejeitou as acusações, classificando-as como infundadas. O líder russo, Vladimir Putin, chamou a denúncia de "histeria".
Trump, por sua vez, criticou as diversas investigações abertas contra ele, incluindo o episódio do "Russiagate", que classificou como "caça às bruxas".

