Notícias

Acordo com EFTA pode somar R$ 2,7 bi ao PIB brasileiro; especialistas fazem alerta sobre soberania

Economistas alertam para riscos em setores sensíveis e perda de foco em pautas sociais no Mercosul.
Acordo com EFTA pode somar R$ 2,7 bi ao PIB brasileiro; especialistas fazem alerta sobre soberaniaMercosur.int

Durante a 66ª Cúpula do Mercosul, realizada nesta semana em Buenos Aires, o bloco sul-americano — formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — celebrou um acordo de câmbio livre com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), composta por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.

O tratado ainda passa por revisão legal, mas deve ser formalizado ainda em 2025, abrangendo cerca de 97% das exportações entre os dois blocos, de acordo com informações divulgadas pelo portal oficial do Governo do Brasil.

Segundo a publicação, esse cenário representa um acréscimo de até R$ 2,7 bilhões ao PIB brasileiro e pode atrair mais de R$ 660 milhões em novos investimentos até 2044 de acordo com as projeções mais otimistas. 

Considerando também os acordos recentemente firmados com Singapura (2023) e União Europeia (2024), estima-se que a corrente de comércio brasileira sob tratados de livre-troca salte de US$ 73,1 bilhões para US$ 184,5 bilhões — o que corresponde a um aumento de aproximadamente 250%

O pacto comercial deve contribuir para a redução de preços ao consumidor e na elevação da renda média, ao integrar uma área econômica com cerca de 300 milhões de habitantes e um PIB combinado superior a US$ 4,3 trilhões.



Acordo perigoso?

Apesar do otimismo, especialistas ponderam sobre os eventuais efeitos adversos em setores vulneráveis à concorrência europeia, conforme apontou o artigo de Eliane Oliveira, para O Globo.

Na matéria, também circula a crítica de que o Mercosul está cada vez mais voltado para temas de cooperação comercial, abandonando pautas sociais desde a ascensão de Javier Milei na presidência da Argentina.

Já Paulo Nogueira Batista Jr, ex-vice-presidente do Banco dos BRICS, aponta que os acordos com países europeus são pautados por uma lógica que cai cada vez mais em desuso, e que devem ser celebrados somente por ''setores liberais e seus porta-vozes na mídia tradicional''.

''O neoliberalismo foi abandonado nesse meio tempo em quase toda parte, inclusive nos Estados Unidos e na Europa. Encontrou, porém, uma sobrevida entre nós'', advertiu, em artigo publicado no portal Brasil de Fato. 

Para Paulo, que chama a atenção para cláusulas relativas a minerais críticos no acordo Mercosul-União Europeia, o Brasil deveria buscar uma abordagem semelhante à da China: ''Apesar da competitividade de suas exportações e do extraordinário perfil tecnológico do seu parque industrial, o país não liberaliza seu mercado de compras públicas''.