
Trump quer ter seu rosto esculpido no monte Rushmore

Já desde seu primeiro mandato como presidente dos EUA, Donald Trump nunca escondeu a ambição de ter seu rosto esculpido no famoso monte Rushmore, onde estão entalhados em granito a estátua das cabeças de George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. O desejo do mandatário gerou polêmicas, levantando debates não apenas sobre o mérito da homenagem, mas também sobre a viabilidade do projeto.

A ideia ganhou tração durante o segundo mandato de Trump, quando a congressista da Flórida Anna Paulina Luna apresentou um projeto de lei em janeiro deste ano propondo que o rosto do atual presidente americano fosse esculpido no monumento, sem fornecer detalhes da maneira ou do orçamento destinado ao processo.
A História por trás do monumento
O conceito do monumento que viria a ser o Memorial Nacional do Monte Rushmore teve início na década de 1920, quando um ponto turístico natural popular no estado da Dakota do Sul foi selecionado para abrigar um memorial que seria nomeado pelo seu escultor, Gutzon Borglum, como "Santuário da Democracia".
Na década anterior, Borglum, que também era membro da Ku Klux Klan, havia iniciado a construção do "Santuário da Confederação" em Stone Mountain, no estado da Geórgia. A obra era composta pela imagem equestre do presidente dos Estados Confederados da América, Jefferson Davis, e dos generais confederados Robert E. Lee e Thomas J. "Stonewall" Jackson entalhadas na encosta de uma montanha.
Ironicamente, o "Santuário da Democracia" teve como inspiração o próprio "Santuário da Confederação".
O memorial foi esculpido em uma pedra colossal de granito no monte Rushmore e sua construção durou de 1927 até 1941. A estátua dos presidentes George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln representaria respectivamente a fundação, expansão, desenvolvimento e preservação da nação.
O projeto inicial visava o entalhe do busto completo dos presidentes, mas a fragilidade da rocha e a falta de financiamento tornaram possível somente a escultura do rosto de cada um deles, que por si só já medem 18 metros de altura.
Seis avôs
Embora seja considerado um marco nacional, o monumento é visto como uma agressão por populações indígenas da região, como os Arapaho, Cheyenne e os Lakota Sioux. O monte Rushmore é cercado pelas Montanhas Negras, chamadas pelos Lakota de "Seis Avôs" (Thuŋkášila Šákpe), simbolizando ancestrais sagrados representados em seis direções: oeste, leste, norte, sul, acima e abaixo.
Embora o território tenha sido prometido para os Sioux no tratado de Fort Laramie, firmado em 1868 após uma guerra sangrenta com o governo americano, a descoberta de ouro na região motivou o descumprimento do acordo em menos de dez anos.
Para essas populações, a escultura com os rostos dos quatro ex-presidentes evocam sentimentos negativos, seja por estarem localizadas em uma terra que consideram ter sido tomada ilegalmente, seja pelo seu caráter sagrado.
Dificuldades técnicas
O entalhe do rosto do atual presidente Trump representaria um enorme desafio de engenharia, conforme explica o The New York Times. Primeiramente, Gutzon Borglum concebeu o projeto dos quatro presidentes como uma obra acabada, sem espaço para que novos rostos fossem esculpidos na rocha de granito.
O próprio projeto inicial apresentou uma série de problemas e teve de ser redesenhado e repensado ao longo de sua execução. Além disso, mesmo nos dias atuais, novas rachaduras e pontos de desgaste no monumento dificultam a sua preservação.
As outras seções do monte Rushmore, apesar de parecerem viáveis à primeira vista, são pequenas demais para o entalhe de novas estátuas e o material da rocha seria frágil demais para sua execução. Embora o monte Rushmore seja composto majoritariamente por granito, camadas de xisto e veios de cristais de pegamatito e quartzo podem ser encontrados em diversos pontos da rocha e são impróprios para serem esculpidos, tornando o sonho de Trump uma façanha muito difícil de ser realizada.


