A primeira ministra da Itália, Giorgia Meloni, planeja classificar a construção de uma ponte que deve custar cerca de US$ 16 bilhões como "gasto de defesa". Trata-se de uma antiga ambição do governo italiano de construir uma via rodoviária sobre o estreito de Messina lingando a ilha da Sicília à península itálica. Um velho 'sonho romano' que por décadas foi adiado por conta do alto custo, riscos ambientais e desafios de engenharia.
Agora, o projeto ganha uma nova roupagem - a de obra estratégica da OTAN.
Truque contábil à italiana
Segundo apuração da revista Politico, Roma quer se aproveitar de uma brecha no plano do novo secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, que permite que 1,5% do PIB seja contabilizado como "gastos relacionados à defesa". A construção da ponte se encaixaria justamente nesse orçamento mesmo não se tratando de um investimento diretamente militar.
A justificativa seria que, com mais de 3 km de extensão, a infraestrutura supostamente teria valor "estratégico" para a segurança nacional e da aliança atlântica, facilitando o trânsito de tropas italianas e de aliados da OTAN.
Contudo, o estreito de Messina nem sequer faz parte do corredor logístico militar oficial da OTAN em território italiano.
Desconfiança interna e chacota no exterior
Enquanto Matteo Salvini, Ministro da Infraestrutura, defende o projeto como "imperativo" e "de interesse público", a manobra contábil está longe de convencer todo mundo.
Dentro da própria Itália, opositores denunciam um "teatro político" e acusam Meloni de tentar driblar burocracias locais e cortar caminho por meio da classificação militar. Já em Washington, a recepção foi discretamente cética: ao serem questionados sobre o projeto na cúpula da OTAN em junho, oficiais americanos "riram entre dentes".
Estratégia ou desespero?
A Itália está entre os países com menor gasto militar da aliança: 1,49% do PIB em 2024. Em vez de efetivamente aumentar o investimento em defesa, o governo italiano busca atalhos simbólicos para atingir a meta exigida por Donald Trump.
Ao tentar transformar cimento e aço em tanques imaginários, Meloni expõe uma fragilidade política: a dificuldade de equilibrar exigências externas com pressões internas em uma economia ainda pressionada.