A poderosa arte marcial da URSS que Putin pratica e que chegou até aos serviços de segurança da Rússia moderna
O sambo (pronúncia sâm-bo) é uma arte marcial que ultrapassou fronteiras. Hoje, é uma das modalidades mais populares da Rússia e conta com reconhecimento internacional. Parte de seu prestígio vem da aplicação prática de suas técnicas, pensadas desde o início para atender às necessidades de combate real.
Originalmente, o sambo foi desenvolvido na União Soviética como um sistema de autodefesa voltado para o Exército e os órgãos de segurança pública.
A palavra sambo vem da expressão russa "samozashchita bez oruzhiya" (самозащита без оружия, em cirílico), que significa "autodefesa sem armas". Mais do que uma técnica de combate, o sambo promove o fortalecimento físico e espiritual do praticante.
Desde seu surgimento, é reconhecido como ferramenta para o desenvolvimento físico completo, incentivando agilidade, força, resistência, pensamento tático e valores cívicos.
A luta reúne elementos de diversas tradições, como o combate russo com os punhos, estilos da Geórgia, Tartaristão, Armênia, Cazaquistão, Uzbequistão, além de técnicas do wrestling norte-americano, lutas britânicas, suíças, o judô e o sumô japoneses.
Essa integração de técnicas moldou uma filosofia baseada na evolução contínua e na abertura ao que há de mais eficaz.
Uma história entrelaçada com a da Rússia
O sambo nasceu entre as décadas de 1920 e 1930, quando a URSS procurava formar uma base social sólida que garantisse proteção e promovesse a inclusão de crianças e jovens em situação de abandono.
Os treinadores Viktor Spiridonov, Vasili Oshchepkov e Anatoli Kharlampiev lideraram sua criação. Enquanto Spiridonov e Oshchepkov formularam sistemas próprios, foi Kharlampiev quem unificou e aperfeiçoou a versão definitiva.
Em 1938, o sambo foi reconhecido como estilo oficial de luta da União Soviética. No ano seguinte, realizou-se o primeiro campeonato nacional.
Com o início da Grande Guerra Patriótica, em 1941, as competições foram suspensas. Ao mesmo tempo, o conflito serviu como prova real da eficácia do sambo, usado por soldados e treinadores que atuaram tanto no campo de batalha quanto na formação de combatentes. Muitos foram condecorados e tornaram-se heróis da União Soviética.
No pós-guerra, o sambo se consolidou como uma combinação de esporte competitivo e sistema de autodefesa. Campeonatos foram retomados e regras oficiais adotadas. O esporte seguiu crescendo até o fim da URSS, em 1991.
Reconhecimento internacional
A partir dos anos 1950, o sambo começou a ganhar visibilidade global. Após a boa atuação dos soviéticos no judô durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, o Japão criou sua própria federação de sambo.
Em 1966, foi reconhecido como esporte internacional. A década de 1970 marcou o início dos campeonatos europeu e mundial. Países como Espanha, Grécia, Israel, Estados Unidos, Canadá e França também criaram suas federações.
Em 1981, o sambo passou a integrar os Jogos Bolivarianos. Apesar do reconhecimento pelo Comitê Olímpico Internacional, ainda não faz parte do programa oficial dos Jogos Olímpicos. Atualmente, o sambo está presente em mais de 90 países.
Na Rússia de hoje
Durante a perestroika e após o colapso soviético, o sambo enfrentou uma fase difícil. Artes marciais orientais ganharam espaço, influenciadas pela popularidade dos filmes de ação.
Nos anos 2000, o sambo foi revitalizado. Em 2003, foi declarado esporte nacional prioritário pela Rússia.
Hoje, desenvolve-se em três frentes: esporte profissional, prática popular e formação de agentes das forças de segurança. Surge também o sambo de combate, que inclui socos, chutes, joelhadas, cotoveladas e cabeçadas.
Com mais de 200 mil praticantes no país e mais de 150 competições anuais, o esporte se fortalece, especialmente entre jovens e crianças, por meio de programas educacionais e sociais.
Grandes nomes do sambo
O esporte coleciona campeões mundiais:
Murat Khasanov e Irina Rodina (11 títulos)
Svetlana Galiant (8 títulos)
Rais Rakhmatullin (7 títulos)
Sergei Lopovok (6 títulos)
Fiódor Emelianenko (4 títulos no sambo de combate)
Marianna Alieva, Ekaterina Onoprienko e Bair Omoktuev (campeões dos Jogos Mundiais de Artes Marciais)
Khabib Nurmagomedov e Islam Makhachev (campeões mundiais e da UFC)
Treinamento das forças de segurança
Na Rússia, o sambo é peça-chave no preparo físico e tático das forças de segurança. É utilizado pelo Ministério do Interior, Serviço Federal de Segurança e pelas unidades especiais da inteligência militar.
Campeonatos internos são organizados regularmente. Desde 2010, ocorrem competições entre instituições militares e entre membros do Serviço Federal de Segurança.
Putin e o sambo
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é um dos mais conhecidos entusiastas do sambo. Iniciou-se na arte aos 11 anos e, aos 21, venceu o campeonato de Leningrado (atual São Petersburgo), sendo reconhecido como Mestre dos Esportes. Chegou a atuar como treinador.
"No tatame, Putin se transformava num írbis [outro nome para o leopardo-das-neves] que lutava até o último segundo. Essa é a maior habilidade humana: ser um guerreiro no tatame e, após a luta, voltar a ser filósofo", lembrou seu treinador, Anatoli Rakhlin. Segundo ele, o presidente "poderia ter sido um grande lutador, campeão mundial múltiplas vezes".
Para Putin, o sambo é "um esporte muito bonito e dinâmico", que reúne "uma grande variedade de artes marciais dos povos da URSS e, por isso, é internacional".
