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O eterno movimento do filho do último Xá da Pérsia contra o governo dos aitolás do Irã

Ativo na oposição iraniana há décadas, Reza Pahlavi tenta atrair os holofotes para si em meio à atual crise envolvendo Teerã.
O eterno movimento do filho do último Xá da Pérsia contra o governo dos aitolás do IrãGettyimages.ru / Majid Saeedi

O conflito entre Israel e Irã, que contou com envolvimento direto dos Estados Unidos, reacendeu o debate sobre as motivações por trás da escalada militar. Para alguns analistas, trata-se de uma tentativa de destruir o programa nuclear iraniano. Outros, porém, veem sinais de um possível esforço para promover uma mudança de regime no país persa.

Nesse cenário, uma figura já conhecida volta a ocupar espaço no noticiário internacional: o Príncipe da Coroa Reza Pahlavi, de 64 anos, filho do último xá da Pérsia, Mohammad Reza Pahlavi — deposto pela Revolução Islâmica de 1979 —, permanece como uma das figuras mais ativas da oposição iraniana e busca reafirmar seu protagonismo em meio à tensão crescente.

Apelos por um levante nacional

Exilado nos Estados Unidos desde 1978, Pahlavi tem reiteradamente defendido um levante popular contra o regime iraniano, mantendo ao mesmo tempo relações amistosas com Israel. Em 2023, chegou a se reunir com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv.

No mesmo ano, fez um apelo direto à comunidade internacional: pediu que outros líderes seguissem o exemplo israelense e "se comprometessem" com uma eventual intervenção militar no Irã.

Comparação com Juan Carlos I

Pahlavi afirma buscar uma "transição democrática" no Irã, inspirando-se no modelo espanhol após a morte do ditador Francisco Franco em 1975. Segundo ele, o processo conduzido na Espanha representa um dos "exemplos mais bem-sucedidos de mudança pacífica da história".

Nesse contexto, o filho do último xá vê a si mesmo como uma figura capaz de unificar diferentes setores da sociedade iraniana em caso de colapso do governo atual.

"Como Juan Carlos, que escolheu ser uma figura de unidade e não de divisão, vejo meu papel como facilitador de uma transição que reúna todos os iranianos", afirmou recentemente em declarações à rede ABC.

Plano de transição

Em coletiva de imprensa realizada em Paris nesta segunda-feira, 23 de junho, Pahlavi apresentou seu plano para uma eventual mudança de regime. Ele prevê a formação de um "governo democrático" no prazo de 100 dias após a queda do atual sistema, o qual considera como "fracassado".

O projeto se baseia em três pilares: a integridade territorial do Irã, a garantia de liberdades individuais e igualdade entre os cidadãos, e a separação entre religião e Estado.

Na visão de Pahlavi, o Irã foi empurrado para a guerra pelo líder supremo Ali Khamenei, a quem acusa de liderar uma "seita criminosa e destrutiva". Ele responsabiliza Khamenei pela ruína econômica do país — sem, contudo, mencionar as sanções unilaterais impostas pelos EUA nem o recente ataque não provocado por parte de Tel Aviv.

Segundo ele, a mudança de regime seria "iminente". Como indício, citou "relatórios confiáveis" segundo os quais famílias de altos membros do regime estariam se preparando para fugir do país.

Aliado do Ocidente

Como seu pai, Reza Pahlavi é visto como um aliado firme do Ocidente, o que gera dúvidas sobre seu grau de abertura à interferência externa. "Reunimos um grupo dos maiores investidores, empresários, construtores e especialistas do mundo — pessoas que se importam com o Irã e reconhecem seu imenso potencial para se tornar um dos mercados globais mais atrativos", declarou na mesma coletiva em Paris.

Sua ligação estreita com os Estados Unidos, no entanto, é um dos pontos mais criticados por opositores e analistas. Essa proximidade com interesses estrangeiros é vista como um sinal de desconexão com a realidade vivida dentro do país.

Mas o maior peso em sua trajetória ainda é o legado familiar. O regime de seu pai foi marcado pela corrupção, repressão e violência — alimentado por uma temida polícia secreta, a Savak, conhecida pelo uso sistemático de tortura e intimamente alinhada aos aliados ocidentais.

Passado controverso

Mohammad Reza Pahlavi, o último xá, desempenhou um papel central no intervencionismo anglo-saxão no Oriente Médio. Ele assumiu o trono em 1941, depois que seu pai foi forçado a abdicar por intervenção da URSS e Reino Unido, que temiam que o xá fosse simpatizante da Alemanha nazista e queriam fazer da Pérsia um corredor para a entrega de suprimentos dos aliados aos soviéticos.

Desde então, a figura do xá assumiu praticamente um caráter simbólico já que o poder de fato no país era exercido pelo parlamento. No entanto, quando em 1953 o governo decidiu nacionalizar o petróleo iraniano, até então sob controle britânico, Mohammad Reza Pahlavi viu a chance de assumir o protagonismo político da nação persa ao contribuir decisivamente para um golpe de Estado apoiado por EUA e Reino Unido que derrubou o primeiro-ministro democraticamente eleito do Irã, Mohammad Mossadeq.

Consolidado no poder, o Xá implantou reformas que beneficiaram a elite política enquanto agravavam a desigualdade social. No fim de seu governo, extinguiu o sistema parlamentar ao estabelecer um partido único, ao mesmo tempo em que desviava a renda do petróleo para o financiamento de programas armamentistas sofisticados.

A insatisfação crescente culminou em uma revolução popular que aboliu a monarquia e instaurou a atual República Islâmica.

Quase meio século no exílio

Reza Pahlavi deixou o Irã em 1978 para estudar no exterior e nunca mais retornou. Estabeleceu-se nos Estados Unidos, onde cursou ciência política na Universidade do Sul da Califórnia e chegou a treinar como piloto de caça da Força Aérea norte-americana. De lá, tenta há décadas se consolidar como porta-voz da oposição ao governo dos aiatolás.

"Há monarquistas que querem que eu seja o próximo Xá. Há republicanos que gostariam de me ver como presidente", afirmou em março de 2023, durante sua primeira audiência no Parlamento Europeu. "Mas deixei claro para ambos os lados que meu objetivo é unir a oposição iraniana", concluiu.