
Os traços sem precedentes dos 12 dias de conflito entre Irã, Israel e Estados Unidos

O recente conflito entre Israel, Estados Unidos e Irã — encerrado com um cessar-fogo na última terça-feira (24) — representou uma ruptura significativa em relação a confrontos anteriores na região do Oriente Médio. As operações militares envolveram níveis inéditos de escalada, com alvos e armamentos até então jamais utilizados no histórico das tensões entre os países.
Instalações nucleares iranianas são atacadas pela primeira vez
Pela primeira vez, instalações nucleares localizadas dentro do território iraniano foram diretamente atacadas. Na abertura da ofensiva, em 13 de junho, forças israelenses lançaram bombardeios contra os complexos de Natanz e Esfahan.
Os primeiros ataques causaram danos substanciais ao centro de enriquecimento de urânio em Natanz, o maior do Irã. Inicialmente, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) havia informado que os danos se restringiam às estruturas superficiais. Dias depois, a avaliação foi atualizada, confirmando que os impactos afetaram diretamente os compartimentos subterrâneos destinados ao enriquecimento de urânio.

Além de Natanz, Israel também alvejou diversas instalações de combustível nuclear em Esfahan. Na sequência, os Estados Unidos ampliaram a ofensiva, incluindo ataques a essas instalações e, sobretudo, ao complexo de Fordo — considerado o centro mais protegido e estratégico do programa nuclear iraniano.
Para especialistas, os ataques representam uma mudança de paradigma. A pesquisadora Rabia Akhtar, da Universidade de Harvard, afirmou que o bombardeio de infraestrutura nuclear não militar rompe um tabu internacional estabelecido desde o surgimento da era atômica. "A lição para o Irã é clara: somente uma arma nuclear pode assegurar que isso não se repita. O tabu não dizia respeito apenas ao uso de armas nucleares, mas também ao ataque contra infraestrutura nuclear. Essa linha foi definitivamente cruzada", publicou em suas redes sociais.
Estados Unidos atacam território iraniano pela primeira vez
Embora Washington e Teerã estejam em confronto diplomático há mais de quatro décadas, os Estados Unidos jamais haviam conduzido ataques diretos contra o território iraniano — até agora.
O episódio mais próximo de uma escalada desse nível havia ocorrido em janeiro de 2020, quando as Forças Armadas dos EUA, sob ordem de Donald Trump, assassinaram o general Qasem Soleimani, comandante da Força Quds, em um ataque com drones no Iraque.
Ao participar dos bombardeios às instalações nucleares iranianas, Washington rompeu uma linha que, até então, permanecia intacta, elevando substancialmente o grau de tensão e os riscos de uma confrontação direta com Teerã.
Uso inédito da "mãe de todas as bombas"
No ataque às estruturas nucleares iranianas, os Estados Unidos utilizaram, pela primeira vez, a bomba GBU-57, conhecida como bunker buster ou, popularmente, como a "mãe de todas as bombas".
Trata-se da Massive Ordnance Penetrator (MOP), a maior bomba convencional do arsenal norte-americano, projetada especificamente para destruir instalações altamente protegidas e subterrâneas.
Desenvolvida a partir de 2004, ainda durante o governo de George W. Bush, a MOP foi concebida para perfurar montanhas que resguardam instalações nucleares. A bomba tem 6,2 metros de comprimento, pesa 13,6 toneladas e transporta uma ogiva de 2,6 toneladas, capaz de atravessar fortificações blindadas e estruturas subterrâneas antes de detonar.
Irã emprega mísseis balísticos avançados pela primeira vez
Em resposta, o Irã também recorreu a uma capacidade militar até então inédita. Pela primeira vez, Teerã utilizou o míssil balístico de múltiplas ogivas Kheibar Shekan, um dos mais avançados do arsenal iraniano.
Surreal scenes of a direct Iranian hypersonic missile impact on Israels port city of HaifaIsraeli military attempts to suggest Irans strikes are ineffective due to air defences, are sounding increasingly indefensible. pic.twitter.com/PcXlE1oWBg
— Chay Bowes (@BowesChay) June 14, 2025
"O míssil balístico Kheibar Shekan, pertencente à terceira geração de mísseis aeroespaciais desenvolvidos pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), foi empregado pela primeira vez nesta operação, utilizando táticas inovadoras e inesperadas, com o objetivo de garantir um ataque mais preciso, destrutivo e eficaz", informou a agência militar iraniana em comunicado oficial.

