Xi Jinping não virá ao Brasil para cúpula do BRICS - imprensa chinesa

Presidente chinês alega conflito de agenda e não comparecerá a evento pela primeira vez na história do bloco, de acordo com South China Morning Post.

Pela primeira vez na história do bloco, o presidente da China, Xi Jinping, não comparecerá à cúpula do BRICS, que acontece neste ano nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, informou o jornal SCMP nesta terça-feira (24), citando múltiplas fontes.

De acordo com o veículo chinês, o presidente será representado pelo primeiro-ministro Li Qiang, que já liderou a delegação chinesa no G20, na Índia, em 2023.

Segundo interlocutores próximos às negociações, o governo chinês comunicou ao Brasil que o motivo da ausência seria um conflito de agenda. Xi Jinping já se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em duas ocasiões recentemente: uma em novembro de 2024, em Brasília, durante visita de Estado; e outra em maio deste ano, no Fórum China-Celac, em Pequim. De acordo com o South China Morning Post, tal proximidade teria pesado na decisão de não viajar ao Brasil neste momento.

Embora tenha comparecido a todas as cúpulas do bloco, em 2023 Xi cancelou um discurso de última hora na cúpula do BRICS na África do Sul, enviando o ministro do Comércio em seu lugar. À época, Pequim não divulgou explicações oficiais.

Reações

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil declarou ao jornal que "não comenta deliberações internas de delegações estrangeiras". A embaixada chinesa em Brasília também não respondeu aos pedidos de entrevista.

Em declaração à Folha de São Paulo, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, afirmou que "as informações sobre a participação na cúpula serão divulgadas no momento apropriado". Ele reiterou o apoio de Pequim à presidência brasileira do BRICS e afirmou que o país busca "promover uma cooperação mais profunda" entre os membros do grupo.

"Em um mundo volátil e turbulento, as nações do BRICS mantêm sua determinação estratégica e trabalham juntas pela paz, estabilidade e desenvolvimento globais", acrescentou Guo.

Nos bastidores, autoridades brasileiras demonstraram frustração com a ausência do presidente chinês. Uma fonte revelou ao SCMP que Lula esperava a presença do líder da China como forma de retribuição pela visita feita a Pequim em maio.

Há ainda especulações de que o convite feito por Lula ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para um jantar de Estado após a cúpula possa ter influenciado a decisão chinesa, ao criar a impressão de que Xi Jinping teria um papel secundário no evento.

"Ele ficou só um dia, mas veio"

A possível ausência do líder chinês já vinha sendo discutida desde fevereiro, quando o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, se reuniu com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em Pequim. Na ocasião, Amorim expressou o desejo brasileiro de contar com a presença do presidente chinês.

"Eu disse a eles: 'BRICS sem a China não é BRICS'", afirmou Amorim, relembrando que o ex-presidente Hu Jintao compareceu à cúpula de 2010 no Brasil, mesmo após um grande terremoto em seu país. "Ele ficou só um dia, mas veio".

Li Qiang deve desembarcar no Brasil no fim da próxima semana e permanecer no Rio de Janeiro para os compromissos da cúpula.