
Amorim alerta para risco global sem precedentes: 'nunca vivi momento tão tenso'

Em uma recente entrevista concedida neste domingo (22) ao portal UOL, o embaixador Celso Amorim deixou o decoro de lado e afirmou, em caráter pessoal, que jamais havia presenciado tamanha tensão internacional em seus 83 anos de vida.
"Não estou dando uma declaração em nome do governo brasileiro. Mas estamos vivendo um momento de grande perigo", alertou o assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Amorim comparou o atual cenário global com a Guerra Fria, mas avaliou que a gravidade da situação atual é ainda maior. "Na crise dos mísseis em Cuba, é claro que houve um momento dramático. Mas aquilo envolvia apenas duas pessoas, uma de cada lado. Hoje, é muito mais difícil de controlar. Há iranianos, israelenses, e atores com armas químicas. A situação é extremamente complexa", explicou.
O assessor também chamou atenção para a guerra tarifária que se desenvolve às margens do conflito militar em si: "Se somar ao cenário a guerra tarifária, acho que o mundo está correndo o risco de afundar como eu nunca vi".

Crise que poderia ter sido evitada
Celso Amorim lembrou que a crise poderia ter sido evitada há 15 anos, quando o Brasil tentou mediar, em 2010, um acordo nuclear entre Irã e Estados Unidos – na época, presidido por Barack Obama:
"A ideia era de Barack Obama e da AIEA (Associação Internacional de Energia Atômica). Se aquilo tivesse sido feito, com um acordo de swap, o Irã hoje não teria condições de estar produzindo urânio em 60%. Isso tudo teria parado antes. Eles poderiam continuar enriquecendo urânio, mas com inspeções. Toda a discussão foi muito franca, muito sincera. Eles aceitaram o plano da maneira que os americanos tinham proposto".
Pelo contrário, segundo ele, os EUA estimulam "um país a chegar a uma arma nuclear" a partir de ações beligerantes que desrespeitam as normas internacionais.
Por fim, Amorim considerou que, apesar do Brasil ser signatário, teria sido mais difícil aderir ao acordo de não proliferação nuclear nas circunstâncias atuais:
"[O Brasil] continuará a lutar pelo desarmamento. Mas teria sido mais difícil entrar hoje, depois dessa situação. Haveria mais dúvidas. Nossas e de outros", completou, em tom de ceticismo.
