
Uma igreja, um primeiro-ministro e um empresário: a prisão que abala um país pós-soviético

Um tribunal da Armênia ordenou na última quarta-feira (18) a prisão por dois meses do empresário Samvel Karapetian. Ele foi acusado de incitar a tomada do poder após ter defendido abertamente a Igreja Apostólica Armênia (AAC), em meio a declarações duras do primeiro-ministro do país, Nikol Pashinian, contra a instituição.
As tensões entre a Igreja apostólica armênia e o governo armênio aumentaram desde a chegada de Pashinián ao poder, sobretudo devido ao conflito com o Azerbaijão. O patriarca supremo e católico de todos os armênios, Gareguin II, pediu diversas vezes a renúncia de Pashinián.
No fim de maio, o primeiro-ministro publicou mensagens ofensivas e com linguagem obscena nas redes sociais dirigidas tanto à Igreja quanto a Gareguin II, cuja saída do cargo também foi exigida.

Pashinián propôs uma mudança na forma de escolha do católico de todos os armênios, sugerindo que a República da Armênia tivesse um papel decisivo na nomeação.
Em resposta, Karapetian, empresário russo de origem armênia e presidente do grupo de empresas Tashir, declarou a jornalistas: "Um pequeno grupo, esquecendo a história armênia, a história milenar da Igreja armênia, atacou a Igreja armênia, o povo armênio".
"Lutarei com todas as minhas forças pelos santuários do povo armênio, onde quer que esteja, aconteça o que acontecer. Não permitirei que ninguém pisoteie nossos santuários para seus próprios fins", afirmou Karapetián em comunicado.
Na terça-feira (17), após uma operação nas imediações de sua residência em Erevan, Karapetian foi levado em um carro da polícia.
"Karapetian foi acusado de incitação pública à tomada do poder por meio dos meios de comunicação. Esse artigo prevê multa, serviço comunitário e é classificado como crime de gravidade média. Solicitar a prisão com base nesse artigo é completamente ilegal", declarou a advogada do empresário, Liana Gasparyan.
A detenção foi amplamente criticada por diversas figuras políticas, religiosas e empresariais, tanto na Armênia quanto fora dela.
Robert Kocharian, ex-presidente da Armênia, classificou o caso como uma "vergonha nacional". Já Levon Mukanian, representante da Diocese russa da AAC para a relação com as estruturas estatais e públicas, afirmou que a ação de Pashinián "se chama repressão".
O governo da Rússia acompanha de perto o caso, conforme declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov: "Claro que acompanhamos. Para nós, ele é cidadão russo. Não queremos interferir nos assuntos internos da Armênia, mas, evidentemente, observamos com muito cuidado tudo o que está relacionado a cidadãos russos".

