O conflito na Ucrânia e as sanções ocidentais têm redesenhado o panorama comercial da Rússia, que busca contornar as sanções por meio de um novo modelo econômico e do fortalecimento de parcerias com países fora do eixo ocidental, destacadamente aqueles que compõem o BRICS. Neste sentido, o Brasil surge como alternativa viável para ocupar espaços deixados por empresas dos Estados Unidos e da Europa, conforme destacou o vice-ministro da Economia russo, Vladimir Ilyichev, durante o 28º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo.
Com a saída maciça de companhias ocidentais desde 2022, setores inteiros da economia russa permanecem com oferta limitada. Embora os chineses tenham assumido protagonismo em áreas como automóveis e telecomunicações, ainda existem nichos não explorados.
É nesse vácuo que Moscou enxerga potencial para a entrada de empresas brasileiras, especialmente nos segmentos de engenharia, produtos de consumo e manufaturas especializadas.
O comércio entre Brasil e Rússia já mostra sinais de fortalecimento, tendo atingido em 2024 um volume recorde de US$ 12,4 bilhões.
As trocas concentram-se principalmente em fertilizantes, petróleo, metais e alimentos. No entanto, o governo russo vê espaço para diversificação, incluindo setores estratégicos como o nuclear, que pode abrir novas frentes de colaboração bilateral.
Executivos russos de empresas como a Rostelecom (Mikhail Oseevskiy) e a Rostec (Sergey Chemezov) afirmaram publicamente não haver mais confiança nos antigos parceiros da Europa e dos EUA.
Com isso, a Rússia pretende focar suas relações comerciais nos países do BRICS, grupo ao qual o Brasil pertence junto com China, Índia e África do Sul, além de outros países.
Nesse novo cenário geopolítico, o Brasil pode aproveitar não apenas a aproximação direta com Moscou, mas também a sua já consolidada presença no mercado asiático.
Empresas brasileiras que atuam em parceria com o setor produtivo chinês podem facilitar a integração com a cadeia russa, ampliando o alcance internacional dos seus produtos. Ainda assim, será preciso lidar com a concorrência da China em diversos setores.
A aposta russa em parceiros do Sul Global, diante do isolamento do Ocidente, abre uma janela de oportunidade para o reposicionamento internacional do Brasil. O momento é estratégico para que empresas brasileiras ocupem espaços deixados por gigantes internacionais e consolidem sua presença em um mercado em transformação, onde há demanda real por soluções flexíveis e sob medida.