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Mali assume controle de mega mina de ouro e lança refinaria estatal com apoio russo

Disputa com a mineradora canadense Barrick marca nova fase da política econômica do país africano, focada em soberania mineral.
Mali assume controle de mega mina de ouro e lança refinaria estatal com apoio russoReprodução/Divulgação/Presidência do Mali

O complexo Loulo-Gounkoto, uma das maiores minas de ouro do mundo, foi colocado sob administração provisória pelo governo do Mali.

A decisão foi oficializada na segunda-feira (16) pelo Tribunal do Comércio de Bamako, em meio a uma disputa entre o Estado maliano e a mineradora canadense Barrick Mining, que operava a jazida.

Segundo maior produtor de ouro da África, o Mali acusa a empresa de operar com base em contratos lesivos ao país e de dever impostos acumulados. A Barrick, considerada a maior produtora de ouro do continente africano, nega as acusações e informou que irá recorrer da decisão judicial.

A medida nomeia o ex-ministro da Saúde, Zoumana Makadji, como administrador provisório da mina, informa a agência Anadolu.

De acordo com representantes do governo, a decisão visa preservar os "interesses econômicos nacionais" e evitar o encerramento das atividades na ausência de um novo acordo com a empresa estrangeira. O Mali detém 20% de participação acionária no empreendimento. 

A disputa se intensificou ao longo de 2024, após a reforma do código de mineração promovida pelo governo do presidente Assimi Goïta. Em maio, o Estado solicitou oficialmente à Justiça o controle da mina e, em dezembro, emitiu um mandado de prisão contra o CEO da empresa, Mark Bristow.

Em meio às tensões, os escritórios da mineradora em Bamako foram fechados, e a Barrick chegou a oferecer 370 milhões de dólares ao governo maliano.

Apesar de ainda ser legalmente proprietária da mina, a empresa declarou que o "controle operacional foi transferido para um administrador externo".

A disputa com a Barrick é reflexo de uma política mais ampla adotada pelo Mali, que faz parte da Aliança dos Estados do Sahel (AES), junto com Burkina Faso e Níger. O bloco tem buscado reduzir a presença de empresas estrangeiras nos setores estratégicos da economia.

Refinaria estatal com apoio russo

Ainda na segunda-feira (16), o governo de Assimi Goïta deu início à construção da primeira refinaria estatal de ouro da África Ocidental, em parceria com o conglomerado russo Yadran. O empreendimento será erguido em Senou, a 19 quilômetros de Bamako, e terá capacidade para processar até 200 toneladas de ouro por ano.

O Estado maliano será sócio majoritário no projeto, que tem como meta eliminar a dependência de refinarias estrangeiras. "É um sonho há muito esperado do povo maliano e hoje se torna realidade", afirmou o presidente durante a cerimônia de lançamento da obra, em que assentou o primeiro tijolo do complexo.

O presidente do grupo Yadran, Irek Salikhov, destacou que a refinaria deverá atender também países vizinhos, como Burkina Faso, e colocar fim à exportação de minério bruto do Mali. "Nosso objetivo é refinar todo o ouro extraído no território maliano", declarou. Ainda não há uma data oficial para a conclusão da obra.