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Reino Unido ordena que duas crianças brasileiras deixem o país sozinhas

Família vive no Reino Unido desde 2019; pais têm permissão legal para permanecer, mas filhos não.
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O governo britânico determinou que duas crianças brasileiras, Guilherme Serrano, de 11 anos, e Luca Serrano, de 8, deixem o Reino Unido e retornem ao Brasil desacompanhadas.

A decisão, comunicada por meio de uma carta enviada pelo Ministério do Interior do Reino Unido, foi divulgada pelo jornal britânico The Guardian na última quarta-feira (18).

A mãe, Ana Luiza Cabral Gouveia, é enfermeira do NHS (Serviço Nacional de Saúde britânico) e vive legalmente no país desde 2019. O pai, Hugo Barbosa, é professor de ciência da computação na Universidade de Exeter e obteve permissão de residência permanente em 2024.

Ambos têm autorização para permanecer e trabalhar legalmente no Reino Unido, mas o mesmo não foi concedido aos filhos.

A família brasileira, que vive no Reino Unido há seis anos contribuindo diretamente para o país com atuação na saúde pública e na educação superior, agora enfrenta a ameaça de ver seus filhos expulsos e, no caso do mais velho, detido, processado, impedido de trabalhar ou alugar imóveis e até mesmo com risco de perder a carteira de motorista, segundo informou o jornal The Guardian.

"Nunca imaginei que algo assim aconteceria. Isso me faz sentir como se meus filhos fossem criminosos", declarou Gouveia em entrevista ao jornal britânico. Ela destacou que cumpre todas as obrigações legais desde que chegou ao país, onde atua no NHS, paga impostos e mantém situação migratória regular.

O casal se separou após alguns anos vivendo no Reino Unido. Com o divórcio, Gouveia solicitou um novo visto de trabalhadora qualificada, obtido em 2022, mas ainda não está apta a pedir residência permanente. Segundo as regras britânicas, é necessário residir por pelo menos cinco anos com esse tipo de visto antes de poder solicitar o status.

De acordo com o The Guardian, a carta do Ministério do Interior informa que ambos os pais deveriam ter residência permanente ou cidadania britânica para que os filhos possam permanecer legalmente no país. A exceção seria se um dos pais tivesse responsabilidade exclusiva pela criação dos filhos, o que não se aplica ao caso, já que o casal divide a guarda.

Barbosa expressou preocupação com os efeitos da decisão sobre os filhos: "O Ministério do Interior está dizendo: 'Vamos simplesmente expulsar duas crianças felizes e saudáveis do Reino Unido'. Voltar ao Brasil afetaria a estabilidade emocional e social deles. As crianças já estão ansiosas diante da incerteza sobre o futuro".

Ainda segundo Barbosa, as crianças não dominam o português, o que tornaria ainda mais difícil uma mudança brusca de país. Guilherme, inclusive, foi aprovado para estudar em uma grammar school, escola pública britânica que exige exame de seleção, oportunidade que seria perdida com a ordem de retorno.

Em resposta ao pedido de residência para o menino de 11 anos, um funcionário do Ministério do Interior manifestou seu entendimento "de que não há motivos sérios ou convincentes para conceder o status de residente permanente".

O documento acrescenta que Guilherme poderia "continuar seus estudos no Brasil, com a opção de frequentar uma escola de língua inglesa" e que, apesar de reconhecer a interrupção na vida familiar, essa medida é considerada proporcional para manter o controle migratório.

"Sempre me senti orgulhosa de trabalhar para o NHS. Por que meus filhos inocentes estão sendo tratados dessa forma?", questionou Gouveia ao The Guardian.