O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discursou, nesta sexta-feira (20), no 28º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, realizado entre 18 e 21 de junho.
Entre os palestrantes do evento está o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto.
No início de seu discurso, Putin deu as boas-vindas a todos os participantes e convidados do 28º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, cujo "formato tradicional envolve discussões substanciais e significativas sobre as questões mais urgentes".
"Estamos contentes com a participação de representantes de 140 países e territórios nas conversas do fórum", destacou.
Hidrocarbonetos não determinam mais a dinâmica econômica da Rússia
Falando sobre o estado atual da economia russa, o presidente enfatizou que, apesar do difícil contexto externo, o PIB russo cresceu mais de 4% ao ano nos últimos dois anos. "Ou seja, trata-se de um crescimento em um ritmo superior à média mundial", afirmou.
"A Rússia já ocupa o quarto lugar no mundo em termos de PIB e é o primeiro na Europa", observou ele.
Putin enfatizou que "é claro que não basta alcançar esta posição: é importante reafirmar constantemente o status de uma das maiores economias", criando condições adequadas para que empresas nacionais e de países amigos invistam recursos, modernizem e expandam a produção "especificamente na Rússia".
Em relação ao PIB sem a influência das indústrias associadas à produção de hidrocarbonetos, seu crescimento atingiu 7,2% em 2023 e 4,9% em 2024. "A contribuição do componente de matérias-primas não determina mais a dinâmica econômica da Rússia", tendo até apresentado uma tendência negativa em determinado momento, enfatizou Putin.
Além disso, o governo alcançou "uma redução recorde de pobreza na Federação Russa em toda a história do país", afirmou o presidente.
Transformação em larga escala da economia global
A economia global está passando pela maior transformação dos últimos 10 anos, à medida em que vários países na comunidade global expandem seu potencial e transformam tanto o equilíbrio de poder quanto o cenário econômico global, observou Putin.
"Se no início do século XXI, os países do BRICS, por exemplo, representavam um quinto da economia global, hoje já representam 40%. E é evidente que esta proporção continuará a crescer", afirmou.
O presidente observou que isso "inevitavelmente acontecerá", especialmente devido ao dinamismo dos países do Sul Global.
"Este crescimento precisa ser mais sustentável para abranger o maior número possível de países. Isso requer um modelo de desenvolvimento fundamentalmente novo, não baseado nas regras do neocolonialismo, onde o chamado 'bilhão de ouro' extrai recursos de outros Estados para o benefício de um círculo restrito: as chamadas elites", enquanto que esses superlucros não chegam aos cidadãos comuns, explicou.
O presidente russo convidou seus parceiros a "contribuírem para a formação de um novo modelo de crescimento global". Putin também observou que, neste sentido, a Rússia está dedicando "atenção especial" ao fortalecimento dos laços dentro do BRICS, especificando que o volume de comércio mútuo do grupo já ultrapassou US$ 1 trilhão e continua a crescer.
Construindo um mundo Multipolar
Putin enfatizou que a Rússia visa unir os esforços de todos os seus parceiros para resolver questões civilizacionais globais e garantir que essas decisões sejam oportunas, eficazes e benéficas para todos os participantes do processo.
"Antes de tudo, buscamos garantir que o desenvolvimento mundial seja equilibrado, que esse desenvolvimento atenda aos interesses do maior número possível de países e que seja formada uma ordem mundial multipolar na qual os participantes da comunidade internacional possam chegar a um acordo entre si", explicou.
Ele não descartou a participação nesses novos processos de "países que, de uma forma ou de outra, inevitavelmente perdem parte de sua posição na economia mundial".
"Também queremos e estamos prontos para chegar a um acordo com eles sobre tudo, se assim o desejarem. Mas se quiserem manter sua posição monopolista a todo custo, se quiserem preservar os instrumentos de influência colonial no mundo, terão que agir com esses instrumentos e se contentar apenas com a situação em que estão gradualmente se inserindo", observou.
Além disso, Putin enfatizou que Rússia e China não estão formando uma nova ordem mundial, mas apenas a formalizando.
"A nova ordem mundial está emergindo naturalmente. Ela aparece como o nascer do sol. Não há como escapar", disse ele.
Moscou e Pequim também estão tentando abrir caminho para que o processo de criação da nova ordem multipolar "seja mais equilibrado e satisfaça aos interesses da vasta maioria dos países", acrescentou.
Conflitos em andamento
Comentando as recentes declarações de Israel sobre o possível assassinato do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, o presidente afirmou que a Rússia "sempre defendeu a garantia da segurança de cada país sem comprometer a segurança de outro".
Ele também rejeitou a comparação entre o conflito ucraniano e a atual escalada entre Israel e Irã quando questionado se deseja uma rendição incondicional de Vladimir Zelensky, como o presidente dos EUA, Donald Trump, havia exigido da República Islâmica.
"Primeiro, esta situação não é semelhante, mas fundamentalmente diferente. E, segundo, não buscamos a capitulação da Ucrânia. Insistimos em reconhecer as realidades que se desenvolveram na prática", explicou.
No contexto da expansão da OTAN em direção às fronteiras da Rússia, Putin enfatizou que "tudo relacionado à tragédia na Ucrânia" não é resultado das ações de Moscou, mas sim "daqueles que não querem aceitar as mudanças globais que estão acontecendo no mundo".
O presidente russo também lembrou que Moscou nunca questionou o direito do povo ucraniano à independência e à soberania, enfatizando que os fundamentos sobre os quais a Ucrânia se tornou um Estado independente e soberano estão estabelecidos em sua Declaração de Independência de 1991, que estipula que se trata de um Estado não alinhado e neutro, sem armas nucleares.
"Seria bom retornar a esses valores fundamentais sobre os quais a Ucrânia conquistou sua independência e soberania", instou.
- O Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo tornou-se um dos principais eventos mundiais de discussão sobre os desafios econômicos atuais enfrentados pela Rússia, pelos mercados emergentes e pelo mundo, além de servir para a tomada de decisões práticas e o lançamento de grandes projetos inovadores.
- Desde 1997, o evento vem consolidando seu papel como uma plataforma global de referência no debate econômico. Neste ano, 20 mil representantes de 140 países e territórios marcam presença no evento.