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Suprema Corte da Argentina confirma condenação por corrupção contra ex-presidente Cristina Kirchner

Ex-presidente argentina afirma ser alvo de perseguição para ser excluída das eleições legislativas.
Suprema Corte da Argentina confirma condenação por corrupção contra ex-presidente Cristina KirchnerTomas Cuesta/Getty Images

A Suprema Corte de Justiça da Argentina confirmou nesta terça-feira (10) a condenação por corrupção contra a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner, o que impede sua candidatura a deputada nas eleições e abre caminho para sua eventual prisão.

A decisão gerou forte repercussão política no país, já que era a última instância disponível para tentar reverter o julgamento que a condenou. Atualmente, Cristina Kirchner é presidente do Partido Justicialista (PJ), principal sigla do peronismo.

Com isso, muda-se o cenário eleitoral deste ano, pois Cristina havia anunciado sua candidatura a deputada pela província de Buenos Aires, nas eleições marcadas para 7 de setembro. Agora, está impedida de concorrer — algo sem precedentes na política argentina.

A sentença da Suprema Corte foi antecipada por comunicadores opositores ao kirchnerismo, críticos da ex-presidente e do peronismo. Na véspera da decisão, Cristina declarou que os processos judiciais visam apenas excluí-la da disputa política argentina.

Na noite de segunda-feira (9), a presidente discursou em um evento do PJ, cujo foco foi criticar a decisão esperada da Justiça e o apoio do governo de Javier Milei à medida. "Este modelo é inviável", afirmou sobre as políticas atuais. E completou: "Acham que vão resolver tudo me prendendo. Estarei presa, mas o povo vai continuar piorando".

Durante o discurso, Cristina convocou mobilizações contra o veredito e chamou a Corte de "guarda pretoriana do poder econômico". "Bastou anunciarmos uma candidatura para que os demônios fossem soltos", disse.

O julgamento

Em dezembro de 2022, Cristina Kirchner foi condenada a seis anos de prisão e à inabilitação perpétua para cargos públicos, ao fim de um julgamento que durou três anos e meio. O caso, conhecido como "Causa Vialidad", começou em 2016 com uma auditoria do governo Mauricio Macri sobre contratos de obras públicas concedidos ao empresário Lázaro Báez na província de Santa Cruz.

A Justiça concluiu que Cristina foi responsável por "administração fraudulenta em prejuízo da administração pública", ao liderar um esquema de corrupção que beneficiou Báez, favorecido com 51 contratos durante os governos kirchneristas.

O processo, no entanto, foi marcado por controvérsias. Fotos revelaram que o procurador Diego Luciani, responsável pela acusação, e o juiz Rodrigo Giménez de Uriburu, que compôs o tribunal, jogavam futebol juntos na casa de campo do presidente Mauricio Macri, principal adversário político de Cristina.

Além disso, vazaram mensagens que mostravam juízes, autoridades e empresários da mídia articulando a cobertura de uma viagem à Patagônia paga pelo Grupo Clarín, maior conglomerado de mídia do país e crítico do kirchnerismo. Um dos participantes era o juiz Julián Ercolini, responsável por reunir as supostas provas contra Cristina.

Mesmo com essas denúncias, o processo seguiu até a condenação. Cristina Kirchner sempre negou os crimes.

Na manhã desta terça-feira (10), o advogado Gregorio Dalbón anunciou em suas redes sociais que ingressou com uma denúncia contra o veredicto na Corte Internacional de Haia.

"Levamos a voz de milhões que já não encontram justiça em seu próprio país. Denunciamos a perseguição sistemática — política, judicial, midiática e institucional — contra Cristina Fernández de Kirchner, duas vezes presidente e atual líder política da Argentina", declarou.