Em depoimento, ex-comandante da Marinha nega ter colocado tropas 'à disposição' de Bolsonaro

Almir Garnier admitiu uma reunião com o ex-presidente, mas afirmou que Bolsonaro não abriu espaço para deliberações.

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, admitiu ter participado de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, onde o "cenário político e social" pós-eleições foi discutido, incluindo a possibilidade de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). No entanto, Garnier negou veementemente ter oferecido as tropas da Marinha para apoiar qualquer plano golpista.

Garnier contrapôs o depoimento do ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, que havia afirmado que o almirante colocou as tropas da Marinha "à disposição" de Bolsonaro. Garnier alegou que, durante a reunião, "não houve deliberações, e o presidente não abriu a palavra para nós, ele fez as considerações dele, o que pareciam para mim mais preocupações e análise de possibilidades, do que propriamente uma ideia ou intenção de conduzir alguma coisa numa certa direção. A única que eu percebi que era tangível e importante era a preocupação com a segurança pública, com a qual a GLO é adequada dentro de certos parâmetros".

O almirante enfatizou que, como militar, cumpriu suas funções e que, como subordinado, só seguiria ordens por escrito. Ele classificou outras interpretações como "ilações" e "conversa de bar", reafirmando seu papel institucional e não como "assessor político do presidente".

A Primeira Turma do STF continua os interrogatórios dos réus envolvidos na trama golpista, com o objetivo de esclarecer os eventos que antecederam a tentativa de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em depoimento anterior, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, declarou que Bolsonaro modificou pessoalmente uma minuta de decreto golpista e que Garnier ofereceu o apoio das tropas da Marinha. Cid também confirmou ter recebido dinheiro em espécie de Braga Netto, entregue em uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada, destinado ao major Rafael Martins de Oliveira.