Thiago Ávila, ativista brasileiro de 38 anos, está entre os 12 tripulantes da embarcação Madleen Liberty, interceptada e capturada pela Marinha israelense quando se dirigia à Faixa de Gaza com ajuda humanitária.
O barco fazia parte da missão organizada pela Freedom Flotilla Coalition (FFC), que partiu do porto de Catânia, na Itália, no domingo (1º). Desde a abordagem israelense, não há mais qualquer comunicação com Thiago e o rastreador do barco permanece parado no ponto da interceptação.
A irmã de Thiago, Luana de Ávila, denuncia em entrevista exclusiva à RT Brasil que a última imagem do ativista é de quando ele se entregava com as mãos para o alto, antes de desaparecer. Ela afirma que os familiares não conseguiram identificá-lo em vídeos divulgados posteriormente nas redes sociais.
"Não vimos o rosto do meu irmão nas imagens em que aparecem pessoas recebendo pão e água. Então é muita angústia… A última imagem que eu tenho do meu irmão é ele com as mãos para cima".
Além da ausência de imagens ou confirmações diretas sobre seu estado, o rastreador da embarcação permanece imóvel, o que acentua as dúvidas da família:
"Disseram que estariam levando o barco, mas o rastreador está parado no local da abordagem. E se estão mesmo levando o barco, por que desativaram esse rastreador?"
Enquanto isso, o Ministério das Relações Exteriores de Israel publicou que:
"Todos os passageiros do 'iate de selfies' estão seguros e ilesos. Eles receberam sanduíches e água. O show acabou. O 'Selfie Yacht' atracou no porto de Ashdod há pouco tempo. Os passageiros estão sendo submetidos a exames médicos para garantir que estão em boas condições de saúde".
A declaração oficial ironiza a situação e contrasta com a realidade descrita pela família brasileira, que também questiona o tratamento que os ativistas vêm recebendo após a captura.
O Itamaraty informou, em nota, nesta segunda-feira (9), que está acompanhando de perto a situação e a interceptação da embarcação Madleen Liberty, que levava itens essenciais à população de Gaza. Uma reunião deve acontecer às 18h (horário de Brasília) com integrantes do governo e da família.
"Ele é o melhor de nós"
Luana de Ávila conta que Thiago é ativista desde 2005, com envolvimento em causas humanitárias no Brasil e no exterior. Ela descreve o irmão como uma pessoa de forte sensibilidade social, comprometido com a justiça e com povos oprimidos.
"O Thiago é um ativista social. Ele participa de toda dor no mundo que enxerga, vai lá e põe a mão dele. Ele acredita e constrói um mundo melhor. Eu conheço meu irmão, sei o que está no coração dele. Não tenho dúvida de que ele é o melhor de nós".
Ela afirma que os dois têm uma relação muito próxima, forjada durante os anos em que cuidaram juntos da mãe, que ficou tetraplégica após um AVC.
"Eu nunca estive longe do meu irmão. Moramos juntos para cuidar da minha mãe. Ele é a ternura da nossa casa. Quando ele está longe, a casa fica mais triste".
Emocionada, Luana relembra a última conversa com o irmão antes do embarque:
"Eu falei: 'Thiago, por que você vai? Tem a gente aqui, sua filha, minha filha…' E ele respondeu: 'É justamente por olhar para elas e saber que estão seguras que eu me sinto compelido a ir. Se fosse você lá, ia querer ajuda. Eu preciso ir'".
Histórico de mobilização e tentativas anteriores
Essa não foi a primeira tentativa de Thiago de chegar à Faixa de Gaza com ajuda humanitária. Em maio, ele participou de outra missão da FFC que precisou ser cancelada após ataque com drones danificar a embarcação perto da costa de Malta.
Em 2023, outra tentativa, com partida da Turquia, foi suspensa mesmo após autorização oficial. Segundo os organizadores, pressões de Israel, dos Estados Unidos e da Alemanha levaram a Guiné-Bissau a retirar sua bandeira de um dos navios, impedindo a missão.
Em junho de 2024, Thiago participou do International Summit on Gaza, em Teerã, a convite da embaixada do Irã no Brasil. O evento, que marcou os 35 anos da morte do aiatolá Khomeini e contou com a presença de autoridades iranianas.
"Eu só quero uma imagem do meu filho", diz pai
O pai do ativista, Ivo de Araújo Oliveira Filho, servidor público aposentado, também gravou vídeo nas redes nesta segunda-feira (9) pedindo notícias:
"Meu nome é Ivo, sou pai do Thiago Ávila, coordenador da Flotilha Humanitária… A imagem que aparece dele no bote é de costas. Não dá nem para ter certeza que seja ele. Eu só quero uma imagem, para saber que ele está com a vida preservada. É só isso que estou pedindo".
Contradições agravam sofrimento
As contradições entre a declaração do governo israelense e os fatos observados pela família brasileira colocam em dúvidas o tratamento dado aos ativistas. O rastreador parado, a ausência de imagens diretas e a interrupção total da comunicação geram um ambiente de desespero, angústia e desconfiança aos familiares.