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Gaokao ('ENEM da China'): quando uma prova de vestibular vira missão de um país inteiro

De ruas silenciosas a ações do governo, país se organiza para garantir tranquilidade no vestibular mais concorrido do planeta.
Gaokao ('ENEM da China'): quando uma prova de vestibular vira missão de um país inteiroGettyimages.ru / Chen Shaoshuai/VCG

Na China, o futuro de milhões de jovens está em jogo neste final de semana (7 e 8 de junho). É nesse período que acontece o Gaokao, o Exame Nacional de Admissão às Universidades, considerado o vestibular mais difícil e concorrido do mundo.

Em 2025, mais de 13 milhões de estudantes participam da prova, que é o único caminho para o ensino superior na China.

Durante os dias do exame, o país inteiro entra em modo de alerta. Ruas são interditadas, buzinas proibidas e autoridades se mobilizam para garantir que nada atrapalhe o desempenho dos estudantes.

"De hoje até a próxima segunda-feira, as ruas da China estão mais silenciosas do que o normal. O que está acontecendo? Esse silêncio é por causa do Gaokao, o maior vestibular do mundo. Nos dias de prova, a sociedade inteira se mobiliza", explica a professora chinesa Yili Wang, que acumula mais de 1,5 milhão de seguidores nas redes sociais contando curiosidades e questões políticas do país asiático.

A professora explica que muitas ruas são interditadas para garantir o trânsito dos candidatos e que as prefeituras e escolas organizam vans para levar os alunos até o local da prova. "A polícia também entra em ação: todos estão de prontidão para ajudar quem esqueceu o documento ou errou o caminho", explica. 

"Durante os horários da prova, buzinar é proibido. Nada pode atrapalhar a concentração. Pais e professores costumam levar os alunos até o local da prova, vestidos de vermelho ou de roupas tradicionais para dar sorte, e esperam até terminar a prova. Celebridades também gravam vídeos para desejar boa sorte aos candidatos. Tudo isso para dar aquela força no momento mais denso da vida escolar na China", conclui a professora.

O exame dura cerca de 10 horas ao longo de dois dias. Os estudantes são avaliados em língua chinesa, matemática, uma língua estrangeira e três disciplinas adicionais, escolhidas conforme seus objetivos acadêmicos. A complexidade da prova é tamanha que nem mesmo um desempenho exemplar durante todo o ensino médio garante bons resultados.

A disputa por uma vaga é intensa: apenas 40% conseguem entrar em universidades, e menos de 5% são admitidos nas instituições mais prestigiadas, revela o jornal South China Morning Post. Se alguém tentar trapacear no vestibular chinês, pode pegar até 7 anos de prisão. 

Duas culturas, dois olhares sobre o futuro

No Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também é um importante instrumento de acesso à educação superior, mas com características distintas.

Um destaque tradicional da cobertura jornalística é o registro dos "atrasados do Enem": estudantes que, por problemas com transporte, clima, trabalho ou cuidados com familiares, chegam após o fechamento dos portões. Essas cenas, muitas vezes, viram meme nas redes sociais.

Enquanto o Brasil trata com humor os imprevistos do Enem, a China adota uma postura de seriedade e mobilização nacional. O respeito à educação e o apoio aos estudantes mobiliza diferentes esferas da sociedade, com ações voltadas a garantir tranquilidade e apoio aos estudantes durante o período da prova.