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Kaliningrado: o enclave estratégico europeu da Rússia cercado pela OTAN

Com acesso ao mar Báltico e isolada do território russo, a província é vista como um ponto sensível no equilíbrio militar europeu. A Aliança Atlântica intensifica exercícios militares hostis à Rússia na área, enquanto Moscou reforça sua presença defensiva na região.
Kaliningrado: o enclave estratégico europeu da Rússia cercado pela OTANGettyimages.ru / Dominika Zarzycka

Recentemente, as forças da OTAN intensificaram exercícios militares em larga escala nas proximidades da província russa de Kaliningrado. Os cenários dessas manobras incluem até mesmo a possibilidade de uma eventual invasão da região, que, por sua localização estratégica e capacidade de defesa, tem gerado preocupação no Ocidente.

Políticos e especialistas ocidentais discutem a ideia de desmilitarizar Kaliningrado, renomeá-la ou até isolar a área do restante do território russo. As propostas começaram a surgir muito antes do início da operação militar especial da Rússia e vêm ganhando força com o tempo entre as potências ocidentais.

Posição estratégica

A província de Kaliningrado possui um dos principais portos da Rússia com acesso ao mar Báltico e possui localização geográfica singular: está separada do restante do território russo por cerca de 800 quilômetros e é cercada por países-membros da OTAN — ao sul, faz fronteira com a Polônia; ao norte e ao leste, com a Lituânia. Assim, as capacidades de defesa do enclave permitiriam que Moscou respondesse com força a um eventual agressor em caso de conflito.

A região abriga um grande contingente da frota e das tropas terrestres russas, com diversos armamentos à disposição para conter possíveis agressões, entre eles o sistema de mísseis tático-operacional Iskander, com capacidade para carregar ogivas nucleares.

Embora a Rússia afirme repetidamente que nunca ameaçou ninguém e que tem o direito soberano de posicionar armas em seu próprio território, o arsenal instalado em Kaliningrado é usado por governos europeus para alimentar, entre seus cidadãos, a percepção de ameaça a partir do território, e a OTAN emprega esse argumento como justificativa para manobras militares perto da fronteira russa na província.

OTAN: cenários de conflito e ocupação

No fim de abril, Nikolay Patrushev, conselheiro presidencial e ex-diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia, afirmou que um dos objetivos dos exercícios da OTAN próximos às fronteiras russas é o assalto à província de Kaliningrado.

"Pelo segundo ano consecutivo, a OTAN está realizando os maiores exercícios das últimas décadas perto de nossas fronteiras, simulando cenários de ações ofensivas em um vasto território, que vai de Vilnius a Odessa, incluindo a ocupação da província de Kaliningrado, o bloqueio da navegação nos mares Báltico e Negro, além de ataques preventivos contra as bases permanentes das forças nucleares russas", afirmou.

Em 3 de junho, a Aliança Atlântica iniciou os exercícios navais anuais Baltops 2025 no mar Báltico, com a participação de 16 países-membros da OTAN, mais de 40 embarcações, 25 aeronaves e cerca de 9 mil soldados.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia classificou os exercícios como "extremamente provocativos", afirmando que fazem parte dos preparativos para possíveis confrontos militares com a Rússia e têm como objetivo garantir superioridade nos domínios terrestre, marítimo e aéreo.

"Se levarmos em conta a abordagem desses exercícios, seu conceito, a estrutura do posicionamento das forças, as próprias forças, sua qualidade e as tarefas formuladas para essas manobras, trata-se de uma luta contra um inimigo comparável: ou seja, a Rússia", disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko.

Em resposta à postura da OTAN, Moscou também planejou uma série de exercícios militares na região. Em 2 de junho, o Ministério da Defesa da Rússia demonstrou a operação dos sistemas de mísseis costeiros Bastion da Frota do Báltico da Marinha Russa.

Além disso, a Frota do Báltico realizou recentemente exercícios navais planejados, nos quais simulou uma gama diversificada de combates contras forças inimigas em potencial, com o objetivo de manter operações de defesa em suas bases na área.

Aspirações de invasão

Enquanto isso, a imprensa e analistas ocidentais descrevem há anos Kaliningrado como o "pior pesadelo" da OTAN, alertando para supostas "ameaças" representadas por esse "porta-aviões russo inafundável nas profundezas do território" da Aliança Atlântica.

A analista do Instituto Lexington dos EUA, Sarah White, escreveu em um artigo publicado em janeiro de 2022 que, a partir da província "fortemente armada" de Kaliningrado, Moscou poderia abrir uma segunda frente em eventual conflito com a OTAN, que "poderia experimentar uma ofensiva devastadora praticamente de dentro de sua própria casa".

Após o início da operação militar especial russa, a retórica ocidental sobre a suposta "ameaça" representada pela região se intensificou, e os alertas sobre ataques hipotéticos se multiplicaram.

No início deste ano, o grupo de estudos Atlantic Council chegou a sugerir ao governo Trump que "desmilitarizasse Kaliningrado e talvez até a devolvesse à família dos estados europeus".

História da adesão

A província de Kaliningrado foi formada após a Conferência de Potsdam, em 1945, na qual ficou decidido que a parte norte do território da Prússia Oriental, então pertencente à Alemanha, seria transferida para a URSS.

Na ocasião, foi estabelecido o Distrito Militar Especial de Königsberg, que, em 7 de abril de 1946, foi transformado pelo governo soviético na província de Königsberg e posteriormente rebatizada em homenagem ao revolucionário bolchevique Mikhail Kalinin.

Vale ressaltar que esse território já fez parte do Império Russo no século 18.

A cidade de Königsberg tornou-se parte da Rússia após a Guerra dos Sete Anos, mas, com a morte da imperatriz Elizabeth I, seu sucessor, Pedro III, devolveu todos os territórios conquistados ao rei da Prússia, Frederico II, incluindo Berlim e Königsberg.