
Washington planeja mudança no controle da Groenlândia que preocupa Europa, afirma Político

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos planeja incluir a Groenlândia na área de responsabilidade do Comando Norte dos EUA (Northcom), responsável por supervisionar a segurança da América do Norte.
A informação foi publicada nesta segunda-feira (2) pelo jornal Politico, com base em declarações de um funcionário do Departamento de Defesa e outras duas fontes com conhecimento direto do assunto.
"Do ponto de vista geográfico, a medida faz algum sentido", disse uma das fontes. "No entanto, do ponto de vista político, isso certamente preocupará a Europa", acrescentou o funcionário.

Segundo o jornal norte-americano, essa mudança representa o passo "mais concreto até agora" no esforço do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para obter maior controle sobre a Groenlândia. A medida deverá "ser alvo de intenso escrutínio na Dinamarca e em toda a OTAN", destaca a reportagem.
Enquanto isso, a própria Dinamarca e as Ilhas Faroé, que têm status de autonomia parcial, continuarão sob o Comando Europeu, o que criará uma "divisão simbólica e operacional" entre esses territórios e a Groenlândia.
A alteração também abre a possibilidade de instalação de mais sistemas de radar do projeto norte-americano de defesa antiaérea conhecido como Domo de Ouro na ilha ártica. Além disso, alinha a Groenlândia de forma mais próxima aos planos de defesa regional dos Estados Unidos e do Canadá.
O Politico ressalta ainda que, ao transferir a Groenlândia para o Comando Norte, o território ficaria separado da Dinamarca no que diz respeito à prioridade dada à ilha nas discussões políticas do Pentágono e da Casa Branca.
Uma das fontes confirmou que o governo dinamarquês ainda não foi informado oficialmente sobre a proposta.
O Comando Norte é o principal responsável pela proteção do território dos Estados Unidos, atuando em áreas como a fronteira sul, defesa aérea e antimísseis, além da cooperação com Canadá e México em temas de segurança compartilhada.
O presidente Donald Trump já declarou diversas vezes que os Estados Unidos precisam adquirir a Groenlândia por razões de segurança internacional, argumentando que embarcações de várias nações navegam próximas à costa norte-americana, o que exige maior vigilância por parte de Washington. Tanto o governo dinamarquês quanto as autoridades locais da Groenlândia rejeitaram essa possibilidade.
Trump e Groenlândia
A ilha de gelo, onde vivem apenas 57 mil pessoas, faz parte da Dinamarca há mais de 600 anos. Foi colônia dinamarquesa até 1953, mas desde então é um território autônomo do reino. Em 2009, foi concedido à Groenlândia o direito de declarar independência por meio de uma votação. Em 2023, o governo local apresentou seu primeiro projeto de Constituição.
A Groenlândia desempenha um papel estratégico para as forças armadas dos EUA e seus sistemas de alerta antecipado para ataques de mísseis, pois a rota mais curta da Europa para a América do Norte passa por essa ilha do Ártico. O exército dos EUA está permanentemente estacionado na Base Aérea de Pituffik, localizada no noroeste da ilha.
Washington demonstrou interesse em expandir sua presença militar, incluindo a instalação de um radar na Groenlândia para monitorar as águas entre a ilha, a Islândia e a Grã-Bretanha, uma rota importante para os navios de guerra e submarinos nucleares russos.
Ulrik Pram Gad, pesquisador sênior do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais, informou à agência Reuters que a ilha é geograficamente parte do continente norte-americano e que é crucial para os Estados Unidos impedir que outras grandes potências estabeleçam uma base de apoio no local.
A ilha também é rica em minerais, como carvão, zinco, cobre, minério de ferro e diamantes, além de petróleo e gás natural. Entretanto, apenas pequenas áreas da ilha foram exploradas em busca de recursos, em parte devido às condições climáticas adversas, já que grande parte da área é coberta por gelo e geleiras. A Groenlândia também proibiu a extração de petróleo e gás natural por motivos ambientais.
A economia da ilha depende muito da pesca, que responde por mais de 95% das exportações, e dos subsídios anuais da Dinamarca, que cobrem cerca de metade do orçamento do estado. No total, Copenhague gasta pouco menos de 1 bilhão de dólares por ano com a Groenlândia.


