Notícias

Ex-presidente sul-africano critica aproximação diplomática com os EUA

Jacob Zuma disse que americanos não compreendem os problemas do país e rejeitou intervenção externa.
Ex-presidente sul-africano critica aproximação diplomática com os EUAGettyimages.ru / Per-Anders Pettersson

O ex-presidente da África do Sul, Jacob Zuma, realizou duras críticas à recente tentativa do atual presidente, Cyril Ramaphosa, de estreitar relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Em discurso neste fim de semana a apoiadores do partido uMkhonto weSizwe (MK), em KwaMaphumulo, Zuma declarou que "não devemos esperar que estranhos, sentados em Washington, entendam o que estamos passando". Segundo ele, a África do Sul conhece melhor seus próprios problemas e deve ser a responsável por solucioná-los.

As declarações ocorrem semanas após Ramaphosa liderar uma delegação de ministros a Washington, D.C., em uma tentativa de reparar laços diplomáticos desgastados com o governo Trump e atrair investimentos para o país. A comitiva se reuniu na Casa Branca e com representantes do setor empresarial, buscando estreitar parcerias tecnológicas e conter tensões sobre reforma agrária e criminalidade.

Zuma classificou o movimento como um sinal de desespero por parte de uma administração que, segundo ele, está desconectada da população. "Você pode realizar suas reuniões com americanos o quanto quiser, mas não aceitaremos soluções vindas de pessoas que nunca pisaram em nossos bairros", afirmou, sob aplausos da plateia.

As relações entre Pretória e Washington enfrentam atritos recentes, especialmente após declarações de autoridades norte-americanas que acusaram o governo sul-africano de violações de direitos humanos e má gestão de setores estratégicos. A delegação de Ramaphosa procurou rebater o que chamou de "retórica inflamatória" e reafirmar o compromisso do país com os princípios democráticos.

Zuma, que nos últimos meses intensificou aparições públicas como figura central do MK Party, tem se apresentado como uma alternativa ao Congresso Nacional Africano (ANC), legenda que liderou no passado. Suas críticas refletem o descontentamento de parte da população diante da estagnação econômica, desigualdade persistente e aumento da criminalidade.

Segundo a analista política Thandi Maseko, "isso é típico de Zuma". Para ela, o ex-presidente se dirige a uma base que se sente abandonada pela liderança atual e desconfiada das agendas estrangeiras.

Até o momento, o gabinete de Ramaphosa não se pronunciou oficialmente sobre as críticas. No entanto, autoridades do governo seguem defendendo a viagem aos EUA como uma medida necessária para recuperar a confiança de investidores e fortalecer a cooperação internacional.