Às vésperas da cúpula do BRICS marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o bloco dos países emergentes "não tem inimigos" e que o chamado Sul Global "tem como único objetivo o crescimento e o desenvolvimento".
As declarações foram dadas em entrevista exclusiva ao jornal francês Le Monde, publicada nesta segunda-feira (3).
"Não se trata de tomar partido a favor ou contra Trump. O Sul Global tem como único objetivo o crescimento e o desenvolvimento. Os BRICS não têm inimigos e não querem tê-los", afirmou Lula, destacando ainda que a divisão entre Norte e Sul "não faz sentido".
Durante a entrevista, o presidente reiterou que o Brasil deseja manter boas relações tanto com a China quanto com os Estados Unidos e rejeitou um retorno à lógica da Guerra Fria.
Lula também destacou a mudança de status do grupo que, segundo ele, passou de um conjunto de países em desenvolvimento para um ator de peso no cenário mundial.
"Os países do Sul foram tratados durante muito tempo como simples nações em desenvolvimento, que não causavam problemas a ninguém. Essa época ficou para trás. Os BRICS representam agora 39% do PIB mundial e mais da metade da população do planeta. Tornamo-nos um ator econômico e político incontornável".
A próxima reunião do bloco, que atualmente conta com Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, será a primeira após a expansão para 11 membros oficiais e contará ainda com nove países associados.
Temas globais:
Além das declarações sobre o BRICS, Lula abordou outros temas centrais durante a entrevista, incluindo sua visita de Estado à França, onde participará da COP dos oceanos e promoverá parcerias econômicas e culturais.
O presidente criticou a política externa de Donald Trump, defendeu a retomada do multilateralismo e pediu uma reforma na governança global.
Sobre o conflito na Ucrânia, reiterou o apoio à integridade territorial do país e propôs negociações de paz com mediação internacional.
Lula também classificou as ações de Israel em Gaza como "genocídio" e defendeu o reconhecimento do Estado palestino.
Em relação ao meio ambiente, defendeu a exploração de petróleo na Amazônia como forma de financiar a transição energética, reafirmando o compromisso com metas climáticas.