Trump dobra tarifas sobre importações de aço para 50%

Em comício com trabalhadores, presidente afirma que ação fecha brechas na legislação comercial

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (30), durante um comício com trabalhadores da indústria do aço, que irá dobrar as tarifas sobre todas as importações estrangeiras de aço, elevando a alíquota de 25% para 50%.

"Vamos impor um aumento de 25%. Vamos elevar de 25% para 50% as tarifas sobre o aço que entra nos Estados Unidos da América, o que vai reforçar ainda mais a indústria do aço no nosso país. Ninguém vai conseguir burlar isso. Estamos elevando de 25%. Estamos dobrando para 50%. E isso é uma brecha [que estamos fechando]”, declarou Trump.

Impactos para o Brasil 

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou recentemente uma análise sobre os impactos econômicos da tarifa de 25% imposta pelos Estados Unidos sobre a importação de aço e alumínio. O estudo, elaborado antes do anúncio de que a alíquota será elevada para 50%, estimava consequências relevantes para o setor de metais ferrosos no Brasil, embora com repercussão limitada sobre a economia como um todo.

Segundo o levantamento, a tarifa de 25% poderia provocar uma queda de 2,19% na produção brasileira de aço, contração de 11,27% nas exportações e redução de 1,09% nas importações. O prejuízo estimado para o país seria de 1,5 bilhão de dólares em exportações e uma redução de quase 700 mil toneladas na produção em 2025.

"Isso se deve ao fato de que os Estados Unidos são um mercado muito importante para o aço brasileiro. Em 2024, último dado de ano fechado que nós temos, eles foram destino de mais da metade das exportações. Portanto, é um mercado crucial de aço para o Brasil e daí a importância de se lidar com essa questão", explicou Fernando Ribeiro, coordenador de Relações Econômicas Internacionais do Ipea e autor do estudo.

Apesar do impacto expressivo no setor siderúrgico, o efeito macroeconômico seria modesto. O Ipea projetou uma queda de 0,01% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e de 0,03% nas exportações totais, além de um ganho de 390 milhões de dólares no saldo comercial, impulsionado pela redução nas importações.

Ribeiro defendeu, naquele momento, que o Brasil deveria buscar uma saída negociada para a crise: "O Brasil tem uma indústria siderúrgica bastante desenvolvida, bastante forte e que exporta, principalmente, produtos semiacabados. É importante que o país busque algum tipo de negociação com o governo americano para reverter essa medida e impedir que isso possa trazer prejuízos para o setor". 

O estudo também analisou possíveis repercussões da tarifa no mercado norte-americano, com projeções de recuo de 0,02% no PIB dos EUA, queda de 0,49% no investimento e retração de 0,66% nas importações.

A produção doméstica de metais ferrosos nos EUA poderia crescer 8,95%, enquanto as importações cairiam 39,2% e as exportações, 5,32%.

Outros segmentos industriais também seriam afetados nos Estados Unidos, com redução da produção de máquinas e equipamentos (-1,1%), produtos de metal (-0,9%), equipamentos elétricos (-0,6%) e veículos e autopeças (-0,5%), reflexo do aumento no custo do aço. As exportações desses setores também seriam prejudicadas.

Ainda não há estimativas atualizadas do Ipea sobre os impactos da nova tarifa de 50%, anunciada nesta sexta-feira. 

Vai e volta 

Na última quarta-feira (28), o Tribunal Federal de Comércio Internacional dos EUA decidiu que a maioria das taxas são consideradas como ilegais, determinando seu bloqueio. A Corte chegou a conclusão de que Trump ultrapassou sua autoridade ao impor tarifas gerais sobre as importações de países que vendem mais do que compram dos Estados Unidos.

Na decisão, a corte afirma que suspendeu temporariamente enquanto o tribunal examina os documentos das moções.

A decisão do Tribunal de Comércio bloqueava as tarifas de 30% introduzidas contra a China, as de 25% impostas contra algumas importações do México e Canadá, e as tarifas de 10% sobre a maioria dos produtos importados pelos EUA. Até aquele momento, a decisão não afetava às taxas de 25% sobre as importações de carros, peças automotivas, aço ou alumínio.