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Morre o embaixador Marcos Azambuja aos 90 anos, referência da diplomacia brasileira

Diplomata teve papel de destaque em negociações internacionais e foi figura central na Rio-92. Em uma de suas últimas entrevistas, refletiu que o Brasil tem "legitimidade moral para falar em nome da paz".
Morre o embaixador Marcos Azambuja aos 90 anos, referência da diplomacia brasileiraFoto: Divulgação/ Itamaraty

O embaixador Marcos Azambuja, uma das vozes mais respeitadas da diplomacia brasileira, morreu nesta quarta-feira (28), aos 90 anos. Ao longo de uma carreira de mais de meio século, foi protagonista de importantes capítulos da política externa do Brasil, com passagens por postos estratégicos e participações decisivas em fóruns multilaterais.

Natural do Rio de Janeiro, Azambuja ingressou no Instituto Rio Branco ainda jovem e desempenhou funções em representações brasileiras na Europa, América Latina e nas Nações Unidas. Foi embaixador do Brasil na Argentina, de 1992 a 1997, e na França, de 1997 a 2003. Antes disso, ocupou o cargo de secretário-geral do Itamaraty entre 1990 e 1992, sendo o número dois da diplomacia brasileira à época.

Uma das suas atuações mais marcantes foi como coordenador da delegação brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. O evento projetou o Brasil como líder nas discussões ambientais internacionais e marcou um momento de virada na diplomacia ambiental global.

Marcos Azambuja também chefiou a delegação brasileira para assuntos de desarmamento e direitos humanos em Genebra e integrou comissões internacionais dedicadas ao tema das armas de destruição em massa. Ao longo de sua trajetória, foi reconhecido pela defesa firme do multilateralismo, da mediação pacífica de conflitos e do papel ativo do Brasil no cenário internacional.

O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) lamentou a morte do embaixador:

"É com imensa tristeza e profundo pesar que o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) comunica o falecimento do Embaixador Marcos Azambuja, Conselheiro Emérito da instituição.Com sua partida, o mundo ficou menos inteligente, menos divertido e menos sábio. Para o CEBRI, em particular, trata-se de uma perda irreparável, uma vez que o Embaixador era um colaborador atuante desde a sua fundação".

Rússia e Ucrânia

Em uma de suas últimas entrevistas públicas, Azambuja refletiu sobre a tentativa do Brasil de atuar como mediador no conflito armado entre Rússia e Ucrânia. Segundo ele, o país tem legitimidade moral para falar em nome da paz, por ser uma nação de "fronteiras impecáveis, em perfeita harmonia". No entanto, o embaixador destacou que boas intenções não garantem protagonismo em negociações internacionais.

"Às vezes, as suas ferramentas não são as ideais para o que você está querendo, mas se o Brasil continuar falando que quer contribuir para a paz, para o fim do conflito, para o fim do sofrimento, está dizendo as coisas certas", afirmou.