
Namíbia celebra primeira cerimônia oficial às vítimas do genocídio colonial alemão

A Namíbia realizou nesta quarta-feira (28), a primeira cerimônia oficial em memória das vítimas do genocídio cometido durante a administração colonial alemã. O evento, ocorrido nos jardins do Parlamento, em Windhoek, marcou a estreia do Dia Nacional de Lembrança do Genocídio, instituído para homenagear os cerca de 70 mil mortos entre os povos Ovaherero e Nama entre 1904 e 1908, conforme divulgou o jornal Namibian.

O massacre é considerado o primeiro genocídio do século XX. Após uma série de revoltas contra o domínio colonial, as forças do Império Alemão conduziram campanhas de extermínio deliberado. Homens, mulheres e crianças foram expulsos de suas terras, levados ao deserto e deixados para morrer de fome e sede. Milhares foram colocados em campos de concentração, onde sofreram trabalhos forçados, maus-tratos e até experimentos pseudocientíficos.
Durante a cerimônia, a presidente Netumbo Nandi-Ndaitwah destacou a importância de preservar a memória histórica e reforçou o compromisso da Namíbia em buscar justiça por meio do diálogo com Berlim. "Deveríamos encontrar um certo conforto no fato de o governo alemão ter concordado que as tropas alemãs cometeram um genocídio".
Em 2021, o governo alemão reconheceu formalmente os massacres como genocídio e se comprometeu com um pacote de €1,1 bilhão em ajuda ao desenvolvimento do país africano, a ser distribuído ao longo de três décadas. No entanto, a proposta tem sido criticada por líderes comunitários e descendentes das vítimas.
"Podemos não concordar sobre o valor final, mas isso faz parte das negociações complexas que temos realizado com o governo alemão desde 2013", disse a presidente.
A escolha do dia 28 de maio para a data oficial de lembrança remonta a 1907, quando as autoridades alemãs encerraram formalmente os campos de concentração, sob pressão da comunidade internacional. Ainda assim, os efeitos do colonialismo continuaram marcando a sociedade namibiana nas décadas seguintes.
Procurada por e-mail, a embaixada da Alemanha em Windhoek encaminhou a agência Reuters a uma declaração oficial divulgada pelo governo alemão no mesmo dia do memorial. "O governo federal reconhece a responsabilidade moral e política da Alemanha (pelos assassinatos) e enfatiza a importância da reconciliação", diz o comunicado.

