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Distribuição de ajuda em Gaza termina em tumulto e tiros de advertência do Exército israelense

Organizações internacionais criticaram a substituições de instituições de ajuda humanitária reconhecidas, pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF), selecionada pelo governo israelense.
Distribuição de ajuda em Gaza termina em tumulto e tiros de advertência do Exército israelenseMuhammad Shehada / X

Um tumulto durante a distribuição de ajuda humanitária em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, levou tropas israelenses a dispararem tiros de advertência na terça-feira (27), informou o The Guardian.

A confusão começou quando a Gaza Humanitarian Foundation (GHF), grupo logístico recém-criado e selecionado por Israel, perdeu o controle do centro de distribuição em seu segundo dia de atuação.

O Exército israelense confirmou os disparos "nas proximidades do local para restaurar a ordem", mas não informou se houve feridos. A GHF alegou que a retirada de funcionários "foi feita em conformidade com o protocolo da fundação para evitar vítimas".

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reconheceu o incidente, afirmando que houve "uma perda de controle momentânea", mas que a situação foi retomada. Imagens circularam nas redes sociais mostrando multidões rompendo cercas para acessar os alimentos.

A GHF entregou 8 mil caixas de comida nesta terça-feira, quantidade que, segundo a fundação, alimentaria cerca de 44 mil pessoas por meio período, apenas 2% da população de Gaza. A organização prometeu ampliar as entregas nos próximos dias.

A distribuição foi feita com apoio de seguranças armados e militares israelenses. O método, no entanto, já havia sido criticado por excluir os mais vulneráveis, pois depende de deslocamento a pé e transporte manual das caixas. O conteúdo, segundo imagens compartilhadas online, inclui arroz, farinha, macarrão, feijão e vegetais enlatados.

O caos confirmou receios de entidades internacionais que se recusaram a cooperar com a GHF, citando riscos operacionais e a falta de experiência do grupo. A ONU e grandes agências humanitárias alertaram para o perigo de substituir organizações tradicionais por uma fundação sem estrutura.

"Mesmo nas condições mais favoráveis, não há logística capaz de alimentar 2,1 milhões de pessoas de uma hora para outra", afirmou Bushra Khalidi, da Oxfam. "Humanitarismo não é só distribuir comida, é garantir condições mínimas de sobrevivência."

No domingo (25), Jake Wood, diretor fundador da GHF, renunciou ao cargo, alegando que a operação não poderia manter os princípios de "humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência".

Desde o fim do cessar-fogo em março, Israel intensificou as ofensivas e assumiu o controle de grande parte do território. De acordo com autoridades de saúde palestinas, quase 4 mil pessoas morreram em ataques recentes. O número total de mortos desde o início do conflito ultrapassa 54 mil, a maioria civis.